Paulo,
o nosso irmão primogênito, nasceu em 6/06/1948, na casa de sua avó materna
Almerinda, situada em Otávio Bonfim, à Rua Domingos Olímpio, 2.209. Recebeu em
casa as primeiras lições escolares, ministradas por familiares, sendo
alfabetizado precocemente, aos quatro anos de idade, o que chamava a atenção
dos adultos por sua aguda inteligência; em uma aula de catecismo, no convento
dos franciscanos, dentre tantos meninos lá presentes, foi ele o pirralho que
respondeu, corretamente, a todas as perguntas de Religião, fazendo com que o
dinâmico Frei Teodoro, ofm, deveras impressionado com o nível de conhecimento
dele, o erguesse nos braços para a vista de todas as crianças.
Após
o Curso Primário, feito no Instituto Padre Anchieta, ingressou no Colégio
Cearense Sagrado Coração, tradicional centro de educação marista, em 1959, de
lá saindo em 1962, ao término do Ginásio, involuntariamente, porque nosso pai
não fizera a reserva da vaga em tempo hábil. Como nascera em 6 de junho, data
festiva dedicada ao então beato Marcelino Champagnat, no Colégio Cearense era
feriado escolar, o que causava alguma inveja a seus irmãos, pois Paulo atribuía
jocosamente a suspensão das aulas a uma suposta homenagem dos maristas a ele
próprio. Certamente, a formação marista de nosso genitor foi o determinante da
decisão de matricular o primogênito na mesma escola, onde fora bem-educado,
respondendo à altura o esforço e o sacrifício financeiro de nosso avô paterno,
em manter seus filhos em boas escolas confessionais. Paulo fez os dois
primeiros anos do científico no Colégio Batista Santos Dumont, e o último, no
Colégio Estadual Liceu do Ceará, o velho Liceu do Ceará, concluindo o segundo
grau em 1965, matriculado no turno da noite, enquanto fazia o “cursinho”
preparatório organizado por acadêmicos de Medicina da UFC; nessa época não
existia o terceiro científico direcionado para preparar ao vestibular.
Foi
aprovado em quarto lugar no vestibular da Universidade Federal do Ceará (UFC),
ingressando na disputada Faculdade de Medicina, em 1966, e colando grau em
1971, depois de seis anos de estudo, como destacado aluno de sua turma. Com o
seu notável desempenho, sinalizou o caminho para os seus demais irmãos, que
tomaram o rumo do ensino superior.
Quando
estava no internato, Paulo teve como dileto preceptor o valoroso esculápio,
Prof. Paulo Marcelo Martins Rodrigues, glorioso nome da Clínica Médica
cearense, desenvolvendo entre eles uma maior aproximação e afinidade
profissional, construída a partir da relação tutor-aluno, tendo recebido do
primeiro o incentivo para fazer a Residência Médica (RM) no Ceará, sob a
orientação do Prof. Paulo Marcelo. Nessa época, a RM oferecia poucas vagas e
não havia, por parte dos médicos, a cultura de se obter a especialização por
esse caminho; a carreira militar, todavia, era muito atrativa aos médicos recém-graduados,
pela segurança funcional e outras vantagens pecuniárias, daí porque ele se
decidiu pela alternativa de ser médico militar.
Foi
aprovado, em concurso de âmbito nacional (em primeiro lugar dentre os que se
submeteram ao concurso no Ceará), para ingresso no Serviço de Saúde do
Ministério do Exército. Isso o levou a se mudar para o Rio de Janeiro, para
fazer o curso de formação de Médico Militar, em 1972, sob a modalidade de
pós-graduação, na Escola de Saúde do Exército, com o estágio técnico-profissional
no Pavilhão de Isolamento do Hospital Central do Exército. Ao término do curso
de formação, ficou em quarto lugar, na classificação geral da turma. No ano
seguinte, em 1973, fez o Curso de Especialização em Tisiologia Clínica e
Sanitária, em Manguinhos, realizado pela Fundação Instituto Osvaldo Cruz
(Fiocruz).
Em
sua carreira militar, foi lotado inicialmente no Hospital Central do Exército,
no Rio de Janeiro, onde ainda tenente-médico chefiava as enfermarias de Doenças
Infecciosas e de Tisiologia e secretariava o Centro de Estudos, e no qual
trabalhou de 1973 a 1974. Em 1974, foi transferido do Rio de Janeiro para o
Comando Militar da Amazônia, recebendo a incumbência de dirigir o Hospital de
Guarnição de Tabatinga, em Benjamim Constant, na região do Alto Solimões, na
confluência de três países (Brasil, Peru e Colômbia), conquistando uma
excepcional experiência médica, em função das difíceis condições laborais de um
hospital localizado em ponto remoto do País e com vasta clientela de pessoas
carentes, nessa região de fronteira inóspita. Depois de um ano de atuação, foi
novamente removido pelo “glorioso EB”, em 1975, para a 10ª Região Militar,
passando a servir no Hospital Geral do Exército, de Fortaleza, onde recebeu a
promoção para capitão.
Em
1976, prestou concurso federal para os cargos de médico da Previdência Social,
em duas especialidades: clínica médica e pneumologia, logrando excelentes
resultados, posicionando-se entre os primeiros lugares de ambas as
especialidades; quando convocado para assumir os cargos aludidos, não titubeou
e nem vacilou em pôr fim a sua carreira militar, preferindo deixar a caserna em
1977, por não guardar tanta afinidade com a vida castrense, na vigência do
regime militar brasileiro, tendo que, inclusive, indenizar as forças armadas
por largar suas funções quando ainda restavam poucos meses para inteirar o
período de cinco anos de permanência mínima requerido aos oficiais formados
pela Escola de Saúde do Exército. A vultosa quantia foi paga com empréstimo
propiciado por seu genitor.
Ao
reverter à vida civil, começou a trabalhar no Hospital de Mesejana e no Posto
de Assistência Médica de Porangabuçu. No Hospital de Tórax de Messejana, onde
esteve em exercício durante trinta anos, dos quais vinte e sete anos foram
cumpridos em cargos de chefias na instituição (Seção de Documentação
Científica, Serviço de Pneumologia, Divisão Médica e Centro de Estudos); também
exerceu encargos adicionais na Secretaria da Saúde do Estado do Ceará,
coordenando o Programa de Controle da Tuberculose no Ceará e prestando
assessoria no âmbito das pneumopatias ocupacionais no estado. Durante treze
anos (1976-1988), dedicou-se ao exercício liberal da profissão, quando chegou a
angariar uma vasta clientela, atendendo a pacientes particulares e de vários
planos de saúde.
É
conhecido como um gestor público sensato e muito organizado. Fiel cumpridor de
suas atribuições funcionais, executadas com tirocínio e versatilidade
profissional, realizando as metas programadas, sem ranço autoritário, mercê da
sua peculiar lhaneza no trato das pessoas. Como especialista em pneumologia,
goza de reconhecido prestígio entre os seus pares, tendo prestado importantes
serviços à Sociedade Cearense de Pneumologia, em cursos e campanhas organizados
por esta entidade, e à Coordenação de Residência Médica (COREME) – Ceará, na
função de preceptor da Residência Médica de Pneumologia.
Orgulha-se
de haver participado da equipe que implantou a primeira UTI Respiratória do
Norte-Nordeste do Brasil e de haver sido o pioneiro no Ceará, em sua especialidade,
na realização dos testes de exercício cardiorrespiratório, com o Hospital de
Messejana servindo de território para ambos os fatos; igualmente, de haver
sido, a serviço da Secretaria da Saúde do Ceará, responsável por importantes
estudos sobre a silicose em nosso meio. Permitiram esses estudos que a
comunidade científica e as autoridades sanitárias locais tomassem conhecimento
da ocorrência desta enfermidade em cavadores de poços de fora da região da
Ibiapaba e em profissionais com outras ocupações.
Depois
de aposentado do Ministério da Saúde, tendo cumprido por várias décadas o seu
labor profissional no Hospital de Messejana, foi médico-auditor concursado do
Município de Itapiúna-CE e pneumologista da Multiclínica Fortaleza, responsável
pela feitura de espirometrias, funções ora em processo de desligamento,
porquanto tomou a decisão de encerrar suas atividades médicas, exercidas ao
longo de quase quarenta e sete anos.
Começou
a sua vida literária ainda na meninice, aos sete anos de idade, publicando
poesias em jornal local. Foi fundador e presidente da segunda diretoria da Regional
Ceará da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames-CE), tendo
participado como organizador ou colaborador de variadas coletâneas publicadas,
reunindo textos de médicos, sob os auspícios dessa sociedade; durante mais de
dois anos manteve um espaço quinzenal de publicação de seus escritos no jornal
Diário do Nordeste. Escreve principalmente contos, crônicas e também artigos
dosados de um humor às vezes cáustico, mas sempre muito refinado. Tem vasto
material acumulado, passível de combinação em vários livros, mas não tem
demonstrado interesse para tal prática; no momento, vem se dedicando a expor
sua produção intelectual na internet,
no Blog do PG, recentemente por ele desenvolvido.
Já
era quase um “rapaz velho”, calejado de tantos namoricos, assíduo frequentador
dos bares, casas de serestas e “points” culturais de Fortaleza, quando conheceu
a médica Elba Macedo, e decidiu-se pelo descanso do guerreiro, vindo a contrair
núpcias com ela em 18/10/1984, de cuja união brotaram Érico (2/08/1985) e Natália (6/06/1990); Érico é formado em
engenharia mecânica pela UFC, pertence ao quadro funcional do Banco do
Nordeste, e é o pai do seu neto Matheus; Natália é graduada em Direito pela UFC,
reside em Belém-PA, e trabalha como agente da Polícia Civil concursada do
Estado do Pará.
Hoje
(6/06/2018), vale lembrar que os maristas consagram este dia para reverenciar
São Marcelino Champagnat, o fundador da Irmandade Marista, o que coincide com o
aniversário do nosso irmão Paulo, que ao mundo chegou na madrugada de 6/06/1948,
tornando-se o mais novo setentão da turma de médicos diplomados pela UFC em
dezembro de 1971.
Paulo
encontra-se do outro lado do Atlântico, na Península Ibérica, destino escolhido
para refugiar-se com a sua consorte Elba, a fim de celebrar os 70 anos do seu natalício.
Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Médico e Irmão do
Paulo
Parabéns ao nobre colega, Paulo, pela passagem do natalício. Que bela trajetória de vida! Parabéns, Marcelo, pela homenagem prestada ao irmão.
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