quarta-feira, 6 de junho de 2018

PAULO GURGEL CARLOS DA SILVA: 70 anos de vida


Paulo, o nosso irmão primogênito, nasceu em 6/06/1948, na casa de sua avó materna Almerinda, situada em Otávio Bonfim, à Rua Domingos Olímpio, 2.209. Recebeu em casa as primeiras lições escolares, ministradas por familiares, sendo alfabetizado precocemente, aos quatro anos de idade, o que chamava a atenção dos adultos por sua aguda inteligência; em uma aula de catecismo, no convento dos franciscanos, dentre tantos meninos lá presentes, foi ele o pirralho que respondeu, corretamente, a todas as perguntas de Religião, fazendo com que o dinâmico Frei Teodoro, ofm, deveras impressionado com o nível de conhecimento dele, o erguesse nos braços para a vista de todas as crianças.

Após o Curso Primário, feito no Instituto Padre Anchieta, ingressou no Colégio Cearense Sagrado Coração, tradicional centro de educação marista, em 1959, de lá saindo em 1962, ao término do Ginásio, involuntariamente, porque nosso pai não fizera a reserva da vaga em tempo hábil. Como nascera em 6 de junho, data festiva dedicada ao então beato Marcelino Champagnat, no Colégio Cearense era feriado escolar, o que causava alguma inveja a seus irmãos, pois Paulo atribuía jocosamente a suspensão das aulas a uma suposta homenagem dos maristas a ele próprio. Certamente, a formação marista de nosso genitor foi o determinante da decisão de matricular o primogênito na mesma escola, onde fora bem-educado, respondendo à altura o esforço e o sacrifício financeiro de nosso avô paterno, em manter seus filhos em boas escolas confessionais. Paulo fez os dois primeiros anos do científico no Colégio Batista Santos Dumont, e o último, no Colégio Estadual Liceu do Ceará, o velho Liceu do Ceará, concluindo o segundo grau em 1965, matriculado no turno da noite, enquanto fazia o “cursinho” preparatório organizado por acadêmicos de Medicina da UFC; nessa época não existia o terceiro científico direcionado para preparar ao vestibular.

Foi aprovado em quarto lugar no vestibular da Universidade Federal do Ceará (UFC), ingressando na disputada Faculdade de Medicina, em 1966, e colando grau em 1971, depois de seis anos de estudo, como destacado aluno de sua turma. Com o seu notável desempenho, sinalizou o caminho para os seus demais irmãos, que tomaram o rumo do ensino superior.

Quando estava no internato, Paulo teve como dileto preceptor o valoroso esculápio, Prof. Paulo Marcelo Martins Rodrigues, glorioso nome da Clínica Médica cearense, desenvolvendo entre eles uma maior aproximação e afinidade profissional, construída a partir da relação tutor-aluno, tendo recebido do primeiro o incentivo para fazer a Residência Médica (RM) no Ceará, sob a orientação do Prof. Paulo Marcelo. Nessa época, a RM oferecia poucas vagas e não havia, por parte dos médicos, a cultura de se obter a especialização por esse caminho; a carreira militar, todavia, era muito atrativa aos médicos recém-graduados, pela segurança funcional e outras vantagens pecuniárias, daí porque ele se decidiu pela alternativa de ser médico militar.

Foi aprovado, em concurso de âmbito nacional (em primeiro lugar dentre os que se submeteram ao concurso no Ceará), para ingresso no Serviço de Saúde do Ministério do Exército. Isso o levou a se mudar para o Rio de Janeiro, para fazer o curso de formação de Médico Militar, em 1972, sob a modalidade de pós-graduação, na Escola de Saúde do Exército, com o estágio técnico-profissional no Pavilhão de Isolamento do Hospital Central do Exército. Ao término do curso de formação, ficou em quarto lugar, na classificação geral da turma. No ano seguinte, em 1973, fez o Curso de Especialização em Tisiologia Clínica e Sanitária, em Manguinhos, realizado pela Fundação Instituto Osvaldo Cruz (Fiocruz).

Em sua carreira militar, foi lotado inicialmente no Hospital Central do Exército, no Rio de Janeiro, onde ainda tenente-médico chefiava as enfermarias de Doenças Infecciosas e de Tisiologia e secretariava o Centro de Estudos, e no qual trabalhou de 1973 a 1974. Em 1974, foi transferido do Rio de Janeiro para o Comando Militar da Amazônia, recebendo a incumbência de dirigir o Hospital de Guarnição de Tabatinga, em Benjamim Constant, na região do Alto Solimões, na confluência de três países (Brasil, Peru e Colômbia), conquistando uma excepcional experiência médica, em função das difíceis condições laborais de um hospital localizado em ponto remoto do País e com vasta clientela de pessoas carentes, nessa região de fronteira inóspita. Depois de um ano de atuação, foi novamente removido pelo “glorioso EB”, em 1975, para a 10ª Região Militar, passando a servir no Hospital Geral do Exército, de Fortaleza, onde recebeu a promoção para capitão.

Em 1976, prestou concurso federal para os cargos de médico da Previdência Social, em duas especialidades: clínica médica e pneumologia, logrando excelentes resultados, posicionando-se entre os primeiros lugares de ambas as especialidades; quando convocado para assumir os cargos aludidos, não titubeou e nem vacilou em pôr fim a sua carreira militar, preferindo deixar a caserna em 1977, por não guardar tanta afinidade com a vida castrense, na vigência do regime militar brasileiro, tendo que, inclusive, indenizar as forças armadas por largar suas funções quando ainda restavam poucos meses para inteirar o período de cinco anos de permanência mínima requerido aos oficiais formados pela Escola de Saúde do Exército. A vultosa quantia foi paga com empréstimo propiciado por seu genitor.

Ao reverter à vida civil, começou a trabalhar no Hospital de Mesejana e no Posto de Assistência Médica de Porangabuçu. No Hospital de Tórax de Messejana, onde esteve em exercício durante trinta anos, dos quais vinte e sete anos foram cumpridos em cargos de chefias na instituição (Seção de Documentação Científica, Serviço de Pneumologia, Divisão Médica e Centro de Estudos); também exerceu encargos adicionais na Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, coordenando o Programa de Controle da Tuberculose no Ceará e prestando assessoria no âmbito das pneumopatias ocupacionais no estado. Durante treze anos (1976-1988), dedicou-se ao exercício liberal da profissão, quando chegou a angariar uma vasta clientela, atendendo a pacientes particulares e de vários planos de saúde.

É conhecido como um gestor público sensato e muito organizado. Fiel cumpridor de suas atribuições funcionais, executadas com tirocínio e versatilidade profissional, realizando as metas programadas, sem ranço autoritário, mercê da sua peculiar lhaneza no trato das pessoas. Como especialista em pneumologia, goza de reconhecido prestígio entre os seus pares, tendo prestado importantes serviços à Sociedade Cearense de Pneumologia, em cursos e campanhas organizados por esta entidade, e à Coordenação de Residência Médica (COREME) – Ceará, na função de preceptor da Residência Médica de Pneumologia.

Orgulha-se de haver participado da equipe que implantou a primeira UTI Respiratória do Norte-Nordeste do Brasil e de haver sido o pioneiro no Ceará, em sua especialidade, na realização dos testes de exercício cardiorrespiratório, com o Hospital de Messejana servindo de território para ambos os fatos; igualmente, de haver sido, a serviço da Secretaria da Saúde do Ceará, responsável por importantes estudos sobre a silicose em nosso meio. Permitiram esses estudos que a comunidade científica e as autoridades sanitárias locais tomassem conhecimento da ocorrência desta enfermidade em cavadores de poços de fora da região da Ibiapaba e em profissionais com outras ocupações.

Depois de aposentado do Ministério da Saúde, tendo cumprido por várias décadas o seu labor profissional no Hospital de Messejana, foi médico-auditor concursado do Município de Itapiúna-CE e pneumologista da Multiclínica Fortaleza, responsável pela feitura de espirometrias, funções ora em processo de desligamento, porquanto tomou a decisão de encerrar suas atividades médicas, exercidas ao longo de quase quarenta e sete anos.

Começou a sua vida literária ainda na meninice, aos sete anos de idade, publicando poesias em jornal local. Foi fundador e presidente da segunda diretoria da Regional Ceará da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames-CE), tendo participado como organizador ou colaborador de variadas coletâneas publicadas, reunindo textos de médicos, sob os auspícios dessa sociedade; durante mais de dois anos manteve um espaço quinzenal de publicação de seus escritos no jornal Diário do Nordeste. Escreve principalmente contos, crônicas e também artigos dosados de um humor às vezes cáustico, mas sempre muito refinado. Tem vasto material acumulado, passível de combinação em vários livros, mas não tem demonstrado interesse para tal prática; no momento, vem se dedicando a expor sua produção intelectual na internet, no Blog do PG, recentemente por ele desenvolvido.

Já era quase um “rapaz velho”, calejado de tantos namoricos, assíduo frequentador dos bares, casas de serestas e “points” culturais de Fortaleza, quando conheceu a médica Elba Macedo, e decidiu-se pelo descanso do guerreiro, vindo a contrair núpcias com ela em 18/10/1984, de cuja união brotaram Érico (2/08/1985) e Natália (6/06/1990); Érico é formado em engenharia mecânica pela UFC, pertence ao quadro funcional do Banco do Nordeste, e é o pai do seu neto Matheus; Natália é graduada em Direito pela UFC, reside em Belém-PA, e trabalha como agente da Polícia Civil concursada do Estado do Pará.

Hoje (6/06/2018), vale lembrar que os maristas consagram este dia para reverenciar São Marcelino Champagnat, o fundador da Irmandade Marista, o que coincide com o aniversário do nosso irmão Paulo, que ao mundo chegou na madrugada de 6/06/1948, tornando-se o mais novo setentão da turma de médicos diplomados pela UFC em dezembro de 1971.

Paulo encontra-se do outro lado do Atlântico, na Península Ibérica, destino escolhido para refugiar-se com a sua consorte Elba, a fim de celebrar os 70 anos do seu natalício.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico e Irmão do Paulo

Um comentário:

  1. Parabéns ao nobre colega, Paulo, pela passagem do natalício. Que bela trajetória de vida! Parabéns, Marcelo, pela homenagem prestada ao irmão.

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