domingo, 10 de junho de 2018

REFEIÇÃO PARA TODOS


Por Pe. Eugênio Pacelli Aguiar (*)
A solenidade de Corpus Christi faz memória à última refeição de Jesus. Não é uma refeição comum, mas uma ceia solene, a última de tantas que Ele havia celebrado na Galileia. Como bom judeu, a refeição para Jesus era lugar sagrado, de encontros, amizade e partilha.
As refeições de Jesus surpreendem e escandalizam, pois, senta à mesa com pecadores. Uma das acusações surpreendentes contra Ele é o costume de comer com cobradores de impostos, pessoas estigmatizadas de pecadoras e pouco ligadas à pratica da Lei judaica: “É um comilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos e pecadores” (Mt 11,19). Jesus transgredia, desafiava formalidades sociais que segregavam. O próprio Reino de Deus, a utopia de Jesus, é apresentado como ceia ou banquete na casa do Pai (Lc. 14,15-24). O Reino Dele é um grande banquete, cuja lista dos convidados é de cegos, coxos, pecadores e indigentes (Lc 14). A linguagem da mesa posta para todos mostra o modo que Ele chama e põe fim a exclusão. O Deus de Jesus é Aquele que desce das alturas, senta à mesa, serve o pão e come com eles.
A ceia de despedida marcou as comunidades cristãs. Não sentirão a Sua ausência; poderão alimentar-se de Seu corpo e sangue.
Nenhuma experiência pode oferecer alimento mais sólido, Ele quis permanecer, por isso se fez alimento. Depois de 21 séculos, a Eucaristia, que os primeiros cristãos chamavam de “Ceia do Senhor, pode parecer uma celebração piedosa, reservada só para pessoas exemplares e virtuosas, que se acham dignas e puras”. A simples refeição foi se complicando. A casa se converteu em templo, a refeição em “sacrifício”, a mesa em altar, o convite em obrigação.
Deixou de ser comida para pecadores e se tornou comida para “dignos e perfeitos”. No entanto, a “mesa do Senhor” é aberta a todos. Papa Francisco nos lembra: “A Eucaristia não é um prêmio para bons, mas força para os débeis e pecadores”. A Ceia do Senhor é para os abatidos que buscam paz, pecadores que buscam perdão e sedentos de amor e dignidade. A Eucaristia convida a criar fraternidade, interpela a vivermos a espiritualidade do encontro, do serviço. O sentido é passar do “partir o pão” para o “pão repartido”.
É bom recordar isso na festa de Corpus Christi.
(*) Padre e mestre em Teologia.
Fonte: O Povo, de 31/5/2018. Opinião. p.24.

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