Por Pe. Eugênio Pacelli Aguiar (*)
A solenidade de Corpus Christi
faz memória à última refeição de Jesus. Não é uma refeição comum, mas uma ceia
solene, a última de tantas que Ele havia celebrado na Galileia. Como bom judeu,
a refeição para Jesus era lugar sagrado, de encontros, amizade e partilha.
As refeições de Jesus
surpreendem e escandalizam, pois, senta à mesa com pecadores. Uma das acusações
surpreendentes contra Ele é o costume de comer com cobradores de impostos, pessoas
estigmatizadas de pecadoras e pouco ligadas à pratica da Lei judaica: “É um comilão e beberrão, amigo dos cobradores de impostos
e pecadores” (Mt 11,19). Jesus transgredia,
desafiava formalidades sociais que segregavam. O próprio Reino de Deus, a utopia
de Jesus, é apresentado como ceia ou banquete na casa do Pai (Lc. 14,15-24). O
Reino Dele é um grande banquete, cuja lista dos convidados é de cegos, coxos,
pecadores e indigentes (Lc 14). A linguagem da mesa posta para todos mostra o
modo que Ele chama e põe fim a exclusão. O Deus de Jesus é Aquele que desce das
alturas, senta à mesa, serve o pão e come com eles.
A ceia de despedida marcou as
comunidades cristãs. Não sentirão a Sua ausência; poderão alimentar-se de Seu
corpo e sangue.
Nenhuma experiência pode
oferecer alimento mais sólido, Ele quis permanecer, por isso se fez alimento.
Depois de 21 séculos, a Eucaristia, que os primeiros cristãos chamavam de “Ceia do Senhor, pode parecer uma celebração piedosa,
reservada só para pessoas exemplares e virtuosas, que se acham dignas e puras”. A simples refeição foi se complicando. A casa se
converteu em templo, a refeição em “sacrifício”, a mesa em altar, o convite em
obrigação.
Deixou de ser comida para
pecadores e se tornou comida para “dignos e perfeitos”. No entanto, a “mesa do
Senhor” é aberta a todos. Papa Francisco nos lembra: “A Eucaristia não é um prêmio para bons, mas força para os
débeis e pecadores”. A Ceia do Senhor é para os abatidos que buscam paz,
pecadores que buscam perdão e sedentos de amor e dignidade. A Eucaristia
convida a criar fraternidade, interpela a vivermos a espiritualidade do
encontro, do serviço. O sentido é passar do “partir o pão” para o “pão
repartido”.
É bom recordar isso na festa de
Corpus Christi.
(*)
Padre e mestre em Teologia.
Fonte: O Povo, de 31/5/2018.
Opinião. p.24.
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