sexta-feira, 5 de outubro de 2018

AOS VIVOS: E da quenga se fez o pão... e outros causos


Por jornalista Tarcísio Matos, de O Povo

E da quenga se fez o pão...

A Páscoa é sempre oportunidade de o multi-tudo-no-mundo Jair Morais rever posicionamentos, pontos de vista e atitudes enquanto cristão, cidadão, músico e marido. Ele, grosso modo, é a versão Lagoa do Opaia do sensacional Zé Limeira - tem no zabumbeiro Michael Jackson o Orlando Tejo do poeta paraibano do absurdo.
Se Limeira tascou: “Eu já cantei no Recife/ Na porta do Pronto Socorro/ Ganhei duzentos mil réis/ Comprei duzentos cachorro/ Morri no ano passado/ Mas este ano eu não morro” - e Tejo botou no papel, Jair afirmou solene: “Eu quero que tu me diga/ O que é que tem mais no mundo/ Se é formiga, se é cabelo/ Se é primeiro, se é segundo/ Se é lombriga Isaltina/ Se é Rogério ou Edmundo” - e Michael botou no canto da parede.
“É chegada a ora, pois”, contou-me Jair, “de promovermos mudanças no calendário litúrgico da igreja”. Jair Morais explica que é tempo de transformar a pabulagem do ovo de chocolate e o pão de coco em coisa mais cearense, palpável, crível, concordante com o que temos, sabemos e gostamos. Com a palavra, o filho da saudosa dona Anunciada:
- Em lugar do ovo de chocolate, a Paçoca da Páscoa. Abril é já tempo de milho junino. Jumento come milho, jumento é nosso irmão. E coelho é meu esquerdo!!!
Quanto ao “alimento comum feito à base de farinha de trigo, água, sal e fermento”, enriquecido de fragmentos de coco, “muito gostoso, por sinal”, o “poeta dos cachorros” tem ressalva a fazer: nem todos podem comprar. Na padaria perto de casa, atendido por gostosa vendedora, na Páscoa de 2016, a moça do balcão pergunta…
- Pão de coco, senhor?
Olhos grelados nas ancas da bichinha, Jair ressalta a mudança de que trata:
- De quenga, gatinha! Pão de quenga!
Mentira tem peito cabeludo
Tabosinha no guidão da Kombi, carro velho que transporta passageiros irregularmente de Pacajus pra cá. É sujeito cheio de onda, queixo, lorota. Agora, no maior papo com o único passageiro do carro, um tal Jair, ali do lado. Falam do Magno Alves que, ainda fosse aprovada a reforma da previdência do Temer, estaria jogando um bolão aos 90 anos.
- Pois é, camarada, o Magno…
Telefone toca. Tabosinha atende. É uma namorada dele, tipo super ciumenta. Não deixa o motorista da kombi se explicar. Diálogo entrecortado, impraticável. Ele bem que tenta.
- Amor, veja bem… Ei, ei! Eu estou nesse instante… Carlinha, preste atenção, o… Querida, agora mesmo…
Diante da impossibilidade de levar adiante a conversa com a amante, já na metade do caminho (proximidades da Coluna), jeito foi apelar, frescar - sob as atenções de um tal Jair ligado no assunto. Tabosinha, já que falar a verdade não estava adiantando, manda ver:
- Pois eu num tô almoçando coisa nenhuma! Eu tô é no pegar no cabaré de Mãe Lucinha ao lado da rapariga mais bonita da casa! Por falar nisso, vou agora mesmo pegar nos…
Jair dá um pulo tão medonho, estilo Homem Aranha, que vai cair dentro do rio Pacoti. Quase se afogando, grita no rumo da BR:
- Vai pegar nos peito da tua mãe, baitola!!!
Últimas do Jair
Na cartinha que me endereçou, tem ainda essas duas:
1. Pra concorrer com a banda Tô Nem Vendo do programa do Falcão na TV, formei a TÔ NEM LENDO – eu, Michael Jackson e Caboco do Oi Cego. Analfas de pais e mães.
2. Pra entender a mensagem de minhas músicas é preciso “fioling” - mistura de fio com feeling.
Fonte: O POVO, de 8/04/2017. Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.8.

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