Por jornalista Tarcísio Matos,
de O Povo
E da quenga se fez o
pão...
A
Páscoa é sempre oportunidade de o multi-tudo-no-mundo Jair Morais rever
posicionamentos, pontos de vista e atitudes enquanto cristão, cidadão, músico e
marido. Ele, grosso modo, é a versão Lagoa do Opaia do sensacional Zé Limeira -
tem no zabumbeiro Michael Jackson o Orlando Tejo do poeta paraibano do absurdo.
Se
Limeira tascou: “Eu já cantei no Recife/ Na porta do Pronto Socorro/ Ganhei
duzentos mil réis/ Comprei duzentos cachorro/ Morri no ano passado/ Mas este
ano eu não morro” - e Tejo botou no papel, Jair afirmou solene: “Eu quero que
tu me diga/ O que é que tem mais no mundo/ Se é formiga, se é cabelo/ Se é
primeiro, se é segundo/ Se é lombriga Isaltina/ Se é Rogério ou Edmundo” - e
Michael botou no canto da parede.
“É
chegada a ora, pois”, contou-me Jair, “de promovermos mudanças no calendário
litúrgico da igreja”. Jair Morais explica que é tempo de transformar a
pabulagem do ovo de chocolate e o pão de coco em coisa mais cearense, palpável,
crível, concordante com o que temos, sabemos e gostamos. Com a palavra, o filho
da saudosa dona Anunciada:
- Em lugar do ovo de chocolate, a Paçoca da Páscoa. Abril
é já tempo de milho junino. Jumento come milho, jumento é nosso irmão. E coelho
é meu esquerdo!!!
Quanto
ao “alimento comum feito à base de farinha de trigo, água, sal e fermento”,
enriquecido de fragmentos de coco, “muito gostoso, por sinal”, o “poeta dos
cachorros” tem ressalva a fazer: nem todos podem comprar. Na padaria perto de
casa, atendido por gostosa vendedora, na Páscoa de 2016, a moça do balcão
pergunta…
- Pão de coco, senhor?
Olhos
grelados nas ancas da bichinha, Jair ressalta a mudança de que trata:
- De quenga, gatinha! Pão de quenga!
Mentira tem peito
cabeludo
Tabosinha no
guidão da Kombi, carro velho que transporta passageiros irregularmente de
Pacajus pra cá. É sujeito cheio de onda, queixo, lorota. Agora, no maior papo
com o único passageiro do carro, um tal Jair, ali do lado. Falam do Magno Alves
que, ainda fosse aprovada a reforma da previdência do Temer, estaria jogando um
bolão aos 90 anos.
- Pois é, camarada, o Magno…
Telefone
toca. Tabosinha atende. É uma namorada dele, tipo super ciumenta. Não deixa o
motorista da kombi se explicar. Diálogo entrecortado, impraticável. Ele bem que
tenta.
- Amor, veja bem… Ei, ei! Eu estou nesse instante…
Carlinha, preste atenção, o… Querida, agora mesmo…
Diante
da impossibilidade de levar adiante a conversa com a amante, já na metade do
caminho (proximidades da Coluna), jeito foi apelar, frescar - sob as atenções
de um tal Jair ligado no assunto. Tabosinha, já que falar a verdade não estava
adiantando, manda ver:
- Pois eu num tô almoçando coisa nenhuma! Eu tô é no
pegar no cabaré de Mãe Lucinha ao lado da rapariga mais bonita da casa! Por
falar nisso, vou agora mesmo pegar nos…
Jair
dá um pulo tão medonho, estilo Homem Aranha, que vai cair dentro do rio Pacoti.
Quase se afogando, grita no rumo da BR:
- Vai pegar nos peito da tua mãe, baitola!!!
Últimas do Jair
Na cartinha que me
endereçou, tem ainda essas duas:
1. Pra concorrer com a banda Tô Nem Vendo do programa do
Falcão na TV, formei a TÔ NEM LENDO – eu, Michael Jackson e Caboco do Oi Cego.
Analfas de pais e mães.
2. Pra entender a mensagem de minhas músicas é preciso
“fioling” - mistura de fio com feeling.
Fonte: O POVO, de 8/04/2017.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.8.
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