sexta-feira, 16 de novembro de 2018

AOS VIVOS: Pai, afasta de mim esse caju! ... e outros causos


Pai, afasta de mim esse caju!

Após quatro dias na buraqueira, bebendo e raparigando, João Joli chega em casa e, claro, encontra a mulher feito um siri na ‘latra’, fumando numa quenga. A saída amarela? Dizer que nunca mais faz aquilo, está arrependido, fará nova promessa de por fim à bebida, de uma vez por todas.
Sujeito jura de pé junto:
- De hoje por diante, zero álcool na boca, meu amor. Pode acreditar!
- Posso confiar mesmo? Prego batido, ponta virada?
- Ora se! Adeus canicilina! Bye, bye reada de pôde!
No instante do promessaral, um vendedor de fruta temporã passa na rua, gritando:
- Ó o caju, ó o caju, ó o caju! E é caju doce, bem docim! Quem vai querer?
Irresistível convite João Joli ouve. Lambendo os beiços, propõe à mulher:
- Amor! Vamos deixar ao menos passar essa safra! Vamos?!?
Pessoa gasosa
Hamilton Pau de Arara, tipo da criatura que adoece antes de a mazela chegar, daqui a um mês. Diante de súbita e excessiva produção de gases, pesquisou no Google e, entre diversas possibilidades, abraçou a do câncer colorretal como o que estava acometido. Já considera a ideia de um caixão no jeito.
Pelo sim, pelo não, foi ao médico. Logo a ruma de ‘inzeme’. Enquanto vêm os resultados, gastro indica alimentação à base de fibras, que pare de tomar cachaça, pratique exercícios físicos. Resultado em mão, Hamilton de novo no doutor. Que observa tudo minudente. Paciente impaciente insiste em que o especialista reexamine os resultados.
- Não adiante, seu Hamilton. O senhor não tem câncer colorretal, nada de tumor.
- É? Pois eu acabo de soltar um ninja! O que seriam esses gases que tanto incomodam?
- Peido ariado! O senhor é um peidopata!
O pior do desemprego no Brasil
Mané Chico tá rico. Ganhou dinheirama ao fingir-se agraciado com o milagre fácil da cura, no templo dum pastor marreteiro. Todo mês ia lá, “ficar aleijado das pernas”, fazendo de conta que era de nascença. No camarim, arrumava-se na cadeira de rodas. Cara de coitado, ao comando milagroso do pastor, dirigia-se ao salão. Levava a galera à loucura ao levantar-se e sair andando. Bonzim!
Em vez de entoarem hosanas aos céus, diante do sobrenatural descortinado àqueles olhos frágeis, alguns fieis gritavam estupefatos: “Eita piula!!!
Sabedor da marmota, um amigo de Mané (casado, 10 filhos, desempregado há 10 anos), foi ao culto, queria também ser “aleijado das pernas” e beneficiado com a cura de agá. Foi apresentado ao religioso. Estava disposto a testemunhar a força milagrenta do crente. Mas o pastor disse que a arrecadação havia caído, que a grana andava curta, infelizmente não havia emprego. E mais esta suja:
- Você fala inglês e alemão?
Puto da vida, o amigo de Mané Chico esperou o culto começar para, com a farsa em andamento, driblar os seguranças, pegar o microfone e falar em alto e bom som:
- O baitola desse coxo não é aleijado não! Fí duma égua é meu vizim! Meia esquerda do time lá e nós! Joga bola que só uma porra!
Levou umas mãozadas no fucim pra largar de ser besta. Ainda hoje tá guenzo, torto pruma banda.
Fonte: O POVO, de 12/08/2017. Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.8.

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