Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
Alguns pensadores se expressam com singular eloquência e
lúcida concisão. Assim o historiador francês Louis Labourie denominou
"unificação microbiana do mundo" a disseminação universal dos
afrovírus.
Entre estes avultam aqueles da febre amarela (no Brasil
desde o século XX), os dois da Aids, da dengue, da chikungunya, da zika, este
trazido durante a Copa Mundial em 2014. Atualmente teme-se, e milhares sucumbem
ao Ebola, das ribeiras do rio homônimo, na República Democrática do Congo.
(Lembro meu artigo "Chico da Matilde", neste jornal, em 20/03/2016).
Há pouco (26-27/05/2018) outro noticioso local informou
novo surto de Ebola naquele continente, nas regiões de Bikoro e Iboko. Tal
reeditou a tragédia de 2014-2016, acometendo 20 mil pessoas, registrando 11.000
óbitos.
Nessa época a epidemia (paradoxalmente alimentada pelos
progressos interurbanos) alastrou-se para a Libéria, Guiné, Sierra Leone,
Nigéria, Mali, e de lá para a Espanha, até a Alemanha.
O Brasil sempre foi hospitaleiro com doenças alienígenas.
Seria mesmo um País "filoxenista (das raízes gregas "philein"=
amor "xenos" = estrangeiro). O agente da febre amarela (Aedes aegypti) aqui aportou em 1865,
teria sido "extinto" em 1942 ou '57, mas agora reapareceu como
epidemia em animais nos nossos Estados fronteiriços (MS, SC, RS, PR: Folha de São
Paulo, 22/02/2017).
O Ebola, flagelo mortal em 70% dos infectados (consoante a
Organização Mundial da Saúde) é uma febre hemorrágica, comprometendo fígado,
baço, pulmões e tecidos linfáticos.
Prossegue incurável, com as vacinas ainda em experimentação
nos EUA. Ali a indústria farmacêutica hesita em investir seus bilhões
pesquisando drogas anti-infecciosas primariamente usadas por países em
desenvolvimento (Revista TIME, 03/11/2014). "Shame on them!" Vergonha
para eles!
Felizmente, diferindo de outras viroses respiratórias
transmitidas pelo ar v.g. influenza, H1N1, o vírus da Ebola não sobrevive sem
meios fluidos como a saliva, o suor, as fezes ou o vômito. É portanto menos
contagioso.
Recentemente surgiu em Cascavel (Paraná) o primeiro
suspeito, no Brasil, um imigrante da Guiné. Oxalá seja o primeiro e último
(*) Professor Emérito da UFC.
Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 11/08/2018.
Opinião, p.21.
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