quarta-feira, 21 de novembro de 2018

RACISMO À BRASILEIRA I (Só me faltava essa…)



Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Em meio à onda antirracista que invade hoje a mídia brasileira, graças a determinados movimentos literários e assemelhados, aflora a verdadeira jabuticaba, o preconceito racial. Explico: ao inverso da Corrupção & Companhia, que não é exclusividade, que não ocorre só no Brasil, o Preconceito Reverso, o da minoria contra a maioria, parece ser o mais grave do Mundo. Esclareço: sou judeu-nordestino e, por razões óbvias, interesso-me pelos desvios crônicos nacionais e pelos preconceitos.
 O fato deste assunto se ter infiltrado pelas frestas das notícias sobre a ladroagem nacional indica que ele desabrochou do inconsciente coletivo: Todos sabiam mais ninguém nada falava, por medo, conveniência ou ‘outras motivações’.
Essa atitude nacional pode derivar, além de outras motivações, da hipocrisia e da camuflagem intelectual de um modelo cínico denominado pelos politicamente corretos e sociólogos a eles associados de Escravidão Branda Brasileira.
Como se a escravidão tivesse gradações. Servidão, sujeição, cativeiro, são infringências dolorosamente trágicas, tanto para o senhor branco quanto para o escravo afro-oriundo. A negritude e a branquitude dependem de se ter maior ou menor quantidade de melanina na epiderme. Nada mais. O pior são suas consequências.
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Entre essas notícias sobre preconceitos avisto frestas rasgadas no paredão da monotonia midiática contra a corrupção. Avisto: a(s) possibilidade(s) de avanços nacionais de passar a limpo muito dos embustes Históricos.
Vênia para contar esta historíola que ouvi do meu pai, judeu nascido na Bessarábia (Moldávia), lugar onde existiam muito ciganos.
O cigano quando se encontra com um judeu diz: “somos irmãos, pelo sofrimento”. Lembre-se, o Holocausto nazista dos ciganos ocorreu, também. Mataram-se indiscriminadamente outras etnias consideradas sub-raças. A maioria sem dúvida foi de judeus e somos todos sobreviventes do Holocausto.
Fecho este artigo inicial sobre Preconceito à Brasileira contando uma anedota originária do humor judaico (aquele que faz graça com a própria desgraça para não ofender outros povos). Medo ancestral? Pode ser, mas não se repetirá.
Vamos à anedota:
O inverno nova-iorquino é intenso e uma de suas características são as ventanias nas esquinas, nas suas largas e garbosas avenidas numeradas.  Durante uma dessas ventanias, um afrodescendente estava sentado no meio fio, tiritando de frio, e procurava agasalhar-se com folhas de jornais velhos. E como grande parte dos nova-iorquinos é de origem judaica, existia uma forte imprensa escrita no idioma iídiche, aquele, que se escreve com caracteres hebraicos, permita-me avivar…
Um passante, vendo a tentativa de abrigo do congelado originário da África, com papel de jornal em grafia hebraica perguntou ao cidadão:  
— Você é judeu?
Responde o afro-americano tiritando, coberto parcialmente de neve:  
— Só me faltava essa!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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