Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Em
meio à onda antirracista que invade hoje a mídia brasileira, graças a
determinados movimentos literários e assemelhados, aflora a verdadeira
jabuticaba, o preconceito racial. Explico: ao inverso da Corrupção
& Companhia, que não é exclusividade, que não ocorre só no Brasil, o
Preconceito Reverso, o da minoria contra a maioria, parece ser o mais
grave do Mundo. Esclareço: sou judeu-nordestino e, por razões óbvias,
interesso-me pelos desvios crônicos nacionais e pelos preconceitos.
O fato
deste assunto se ter infiltrado pelas frestas das notícias sobre a ladroagem
nacional indica que ele desabrochou do inconsciente coletivo: Todos sabiam mais
ninguém nada falava, por medo, conveniência ou ‘outras motivações’.
Essa
atitude nacional pode derivar, além de outras motivações, da hipocrisia e da
camuflagem intelectual de um modelo cínico denominado pelos politicamente
corretos e sociólogos a eles associados de Escravidão Branda Brasileira.
Como
se a escravidão tivesse gradações. Servidão, sujeição, cativeiro, são
infringências dolorosamente trágicas, tanto para o senhor branco quanto para o
escravo afro-oriundo. A negritude e a branquitude dependem de se ter maior ou
menor quantidade de melanina na epiderme. Nada mais. O pior são suas
consequências.
****************************************
Entre
essas notícias sobre preconceitos avisto frestas rasgadas no paredão da
monotonia midiática contra a corrupção. Avisto: a(s) possibilidade(s) de
avanços nacionais de passar a limpo muito dos embustes Históricos.
Vênia
para contar esta historíola que ouvi do meu pai, judeu nascido na Bessarábia
(Moldávia), lugar onde existiam muito ciganos.
O
cigano quando se encontra com um judeu diz: “somos irmãos, pelo sofrimento”.
Lembre-se, o Holocausto nazista dos ciganos ocorreu, também. Mataram-se
indiscriminadamente outras etnias consideradas sub-raças. A maioria sem dúvida
foi de judeus e somos todos sobreviventes do Holocausto.
Fecho
este artigo inicial sobre Preconceito à Brasileira contando uma
anedota originária do humor judaico (aquele que faz graça com a própria
desgraça para não ofender outros povos). Medo ancestral? Pode ser, mas não se
repetirá.
Vamos à anedota:
O inverno nova-iorquino
é intenso e uma de suas características são as ventanias nas esquinas, nas suas
largas e garbosas avenidas numeradas. Durante uma dessas ventanias, um
afrodescendente estava sentado no meio fio, tiritando de frio, e procurava
agasalhar-se com folhas de jornais velhos. E como grande parte dos nova-iorquinos
é de origem judaica, existia uma forte imprensa escrita no idioma iídiche,
aquele, que se escreve com caracteres hebraicos, permita-me avivar…
Um passante, vendo a
tentativa de abrigo do congelado originário da África, com papel de jornal em grafia
hebraica perguntou ao cidadão:
— Você é judeu?
Responde o
afro-americano tiritando, coberto parcialmente de neve:
— Só
me faltava essa!
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
Nenhum comentário:
Postar um comentário