segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

SEPARAÇÃO


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Antes que os movimentos feministas começassem a se preocupar com a manutenção/separação de um casamento, os conservadores de todas as classes pressionavam-se para que fosse mantida a união. A orientação era a de manter o casamento, mesmo que não tivesse dado certo, de qualquer maneira. A maioria das pessoas defendia então que o matrimônio heteronormativo seria o melhor que poderia existir para a adaptação ao lugar, ao ambiente natural, propicio para a criação dos filhos.
Essa atitude/regra ainda leva muitos casais a manterem casamentos que não deram certo e com isso transformam a união matrimonial em um ambiente destruidor.
Presencio, na minha prática clínica, vários casais que vivem juntos em nome do bem-estar dos filhos e depois que os filhos saem de casa (alguns até antes, muito antes disso) deparam-se com o vazio existencial que sempre existiu.
Esquecemos que o cérebro é o gerador das mais diversas criações e o fato é que, em havendo um útero, ele, por mais que seja controlado pelo mais brilhante dos cérebros, somente é capaz de, quando funciona, gerar filhos. Será que ainda vamos continuar pensado que o enigma feminino pode ser resolvido apenas pela gestação ou submissão?
Afirmava Shakespeare na peça a Megera Domada (Original de Lançamento - 1593): ‘Ou vivermos ainda no preceito que prende o servo ao soberano, e prende a mulher ao seu marido?
Acredito que, em pleno século XXI, cada pessoa deva ter o seu próprio modo de pensar e mais oportunidades de abrolhar no contemporâneo ocidental, sobretudo na classe média urbana brasileira.
As razões são individuais. A fé na razão apenas conduz ao que a razão faz às pessoas: converte-se no sentimento que a conduz.
As receitas para a realização subjetiva tanto nas pessoas que são estigmatizadas porque não querem adotá-las ou as que assim o fazem para cumprir uma regra, podem ser felizes ou infelizes, independente de seguir ou não seguir regras ultrapassadas pelo avanço da cultura e da ciência contemporâneas.
Desconheço quem seja dono dos próprios sentimentos. Depois de presenciar muitas separações, posso dizer que não poucas vezes uma separação é a melhor solução para todos e evita que se suporte a vivência ou a manutenção de uma união que não deu certo.
Não faço terapia de casais, pois acredito que ninguém deixa ninguém. Essa história que quem me deixou foi ele ou ela não existe. Casais se separam. Para a separação é necessário que haja duas pessoas. E só.
Quanto aos filhos, as mulheres – antes do empoderamento feminino – discutiam como evitar filhos, agora a conversa é como engravidar pois, na maioria das vezes, a figura do pai provedor é ultrapassada e elas se mantém sozinhas.
Para concluir, tenho visto a alegria do divórcio e das inúmeras modalidades de casamentos, desde um genitor só e um filho só até incontáveis configurações de múltiplos lares e famílias ampliadas que tiveram uma melhor qualidade de vida do que as que ficaram presas a um casamento fracassado, incluindo genitores e filhos daquele sistema afetivo desgovernado.
Quanto às uniões homoafetivas, separações e adoções ainda são muito cedo para falar. Esperemos até que casais homoafetivos desejem se separar. Fatos sociais novos devem ser analisados evitando-se as observações casuísticas. Que se aguarde as observações científicas.
Neste século XXI não existem profetas, quando muito, meros especuladores. Não há como fazer comparações e muito menos passados para serem analisados. Há muitas perguntas na vida que devemos aguardar para fazer. Nem toda a pergunta precisa de uma reposta imediata. Devemos esperar por novos acontecimentos.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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