Por José Jackson
Coelho Sampaio (*)
A palavra Ideologia não surgiu espontaneamente na
língua, ela foi criada, no século XVIII, por um pensador francês, Destutt du
Tracy, que pretendia desenvolver uma ciência nova, a ciência das ideias. Este é
o sentido original: saber, conhecimento, ciência sobre gênese e desenvolvimento
das ideias.
A primeira grande mudança ocorreu quando das
convulsões revolucionárias que se seguiram na Europa, incluindo as guerras e as
ambições imperiais napoleônicas. Ora, os intelectuais responsáveis pelo
programa da nova ciência eram fervorosos críticos destas ambições e foram
desqualificados por Napoleão Bonaparte como falastrões incompetentes,
inconsequentes, críticos de gabinete.
Karl Marx, não empenhado na Ciência das Ideias, mas
na Ciência da Economia Política, aprofunda o conceito e o elege como categoria
estratégica: modo que a consciência humana desenvolve para explicar os
fenômenos oriundos das práticas sociais, de modo a fazer andar a vida, com
segurança pelo menos aparente, sem rupturas da subjetividade. Ela incluiria
teorias justificativas da exploração (patrões e aliados), teorias
justificativas da luta pela liberdade (operários e aliados), ilusões,
superstições, crenças, falsas consciências.
Ocorre que, dos escombros das experiências
soviéticas leninistas, surge o neoczarismo stalinista a definir Ideologia
apenas como o conjunto de ideias justificativas da exploração, portanto, só
haveria ideologia burguesa. Os operários, os explorados em geral, empunhariam a
crítica ideológica.
Hoje, sobretudo no Brasil, ouve-se de tudo, pois
Ideologia virou babel de sentidos, destacando-se como adjetivo qualificativo
pejorativo, a ser lançado na cara de quem apresente teorias, crenças,
superstições, ilusões e falsificações de consciência distintas das minhas. É o
outro que é sempre ideológico.
Precisamos revisitar o conceito de Ideologia, como
categoria filosófica, de grande alcance psicossocial e político, pois é por
meio de suas práticas que podemos superar a dor e o vazio das alienações.
Ideologia, conjunto possível de explicações individuais, partilhadas por grupos
sociais, que minimamente tornam compreensível as experiências do mundo e fazem
a vida ser levada com menos angústia. Sem prejuízo da prática individual e
coletiva da permanente crítica de todas as teorias e práticas.
(*) Professor
titular de Saúde Coletiva e Reitor da
Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 10/2/19. p.17.
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