quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

IDEOLOGIA: uma guerra política de sentidos


Por José Jackson Coelho Sampaio (*)
A palavra Ideologia não surgiu espontaneamente na língua, ela foi criada, no século XVIII, por um pensador francês, Destutt du Tracy, que pretendia desenvolver uma ciência nova, a ciência das ideias. Este é o sentido original: saber, conhecimento, ciência sobre gênese e desenvolvimento das ideias.
A primeira grande mudança ocorreu quando das convulsões revolucionárias que se seguiram na Europa, incluindo as guerras e as ambições imperiais napoleônicas. Ora, os intelectuais responsáveis pelo programa da nova ciência eram fervorosos críticos destas ambições e foram desqualificados por Napoleão Bonaparte como falastrões incompetentes, inconsequentes, críticos de gabinete.
Karl Marx, não empenhado na Ciência das Ideias, mas na Ciência da Economia Política, aprofunda o conceito e o elege como categoria estratégica: modo que a consciência humana desenvolve para explicar os fenômenos oriundos das práticas sociais, de modo a fazer andar a vida, com segurança pelo menos aparente, sem rupturas da subjetividade. Ela incluiria teorias justificativas da exploração (patrões e aliados), teorias justificativas da luta pela liberdade (operários e aliados), ilusões, superstições, crenças, falsas consciências.
Ocorre que, dos escombros das experiências soviéticas leninistas, surge o neoczarismo stalinista a definir Ideologia apenas como o conjunto de ideias justificativas da exploração, portanto, só haveria ideologia burguesa. Os operários, os explorados em geral, empunhariam a crítica ideológica.
Hoje, sobretudo no Brasil, ouve-se de tudo, pois Ideologia virou babel de sentidos, destacando-se como adjetivo qualificativo pejorativo, a ser lançado na cara de quem apresente teorias, crenças, superstições, ilusões e falsificações de consciência distintas das minhas. É o outro que é sempre ideológico.
Precisamos revisitar o conceito de Ideologia, como categoria filosófica, de grande alcance psicossocial e político, pois é por meio de suas práticas que podemos superar a dor e o vazio das alienações. Ideologia, conjunto possível de explicações individuais, partilhadas por grupos sociais, que minimamente tornam compreensível as experiências do mundo e fazem a vida ser levada com menos angústia. Sem prejuízo da prática individual e coletiva da permanente crítica de todas as teorias e práticas.
(*) Professor titular de Saúde Coletiva e Reitor da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 10/2/19. p.17.

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