quinta-feira, 2 de maio de 2019

ANSIEDADE E MÉDICOS


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A Síndrome de ‘Burnout’ é um distúrbio psiquiátrico que se caracteriza pelo esgotamento físico, mental e psíquico do indivíduo. Tal transtorno está registrado no Grupo V da CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde).
Considerado como manifestação depressiva, acontece entre as mais diversas profissões e, em maior proporção, nos profissionais da Saúde, principalmente entre estudantes, internos e médicos residentes. As causas estão ligadas a uma percepção de desvalorização / impossibilidade de atender a demanda profissional e ao colapso da Medicina.
A maioria das ocorrências, segundo os estudiosos, não é causada por fatores pessoais, como personalidade ou herança genética. Será pertinente lembrar, que paradigmas do tipo: médico é frio, calculista, cético, descrente; que não acredita em nada; que tende a duvidar de tudo; incrédulo; sem crenças e outras adjetivações deste tipo, não passam de imputações superadas. Da mesma forma, o preconceito que julga o sofrimento psíquico como fraqueza, deveria ser revisto pelos responsáveis pela formação dos novos médicos como pessoas, cidadãos e – principalmente – como profissionais.
Atualmente, na América Latina, o Brasil é considerado o país com maior taxa de pessoas com transtorno de ansiedade. Dados expostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em fevereiro deste ano (2017), dizem que 9,3% dos brasileiros vivem com algum tipo de transtorno de ansiedade. Líder no ranking, o Brasil supera as taxas indicadas nos demais países da região, que tem o Paraguai em segundo lugar, com 7,6%, e em terceiro o Chile, com 6,5%. De acordo com as pesquisas, a ansiedade é uma das patologias mais citadas e com maior número de alterações psíquicas no nosso país.
Quando a ansiedade persiste por muito tempo leva, na maioria das vezes, à depressão que é uma das principais causas de suicídio. O suicídio geralmente é causado pela convergência de múltiplos fatores de risco, sendo os mais comuns ligados a perturbações da saúde mental não tratadas, ou, inadequadamente gerenciadas.
Cerca de 300 médicos morrem por suicídio nos EUA por ano. Nesse caso, a depressão é um fator de risco significativo, que leva à morte, aproximadamente, na mesma proporção que as mortes por suicídio não médicas; mas os médicos que tiraram a própria vida, foram menos propensos a receber tratamento de saúde mental.
A taxa de suicídio entre os médicos do sexo masculino é 1,41 vezes superior à da população masculina em geral. E entre os médicos do sexo feminino, o risco relativo é ainda mais pronunciado: 2,27 vezes maior do que aquele da população feminina geral. O suicídio é a segunda causa de morte na faixa etária de 24 a 34 anos (os acidentes são os primeiros).
A prevalência de depressão entre os médicos residentes, é maior do que entre indivíduos de idade semelhante na população geral dos EUA: 28% desses médicos e residentes experimentam um episódio depressivo expressivo durante a residência médica versus a taxa da população em geral, que é de 7,8%.
O risco de suicídio entre os médicos aumenta, quando as condições de saúde mental não são escondidas e, quando a automedicação ocorre como uma forma de abordar ansiedade, insônia ou outros sintomas aflitivos. Embora a automedicação possa reduzir alguns sintomas, o problema de saúde subjacente, não é efetivamente tratado e, isso pode levar a um desfecho trágico. Em um estudo prospectivo, 23% dos estudantes internos tiveram pensamentos suicidas.
Em resumo, as perturbações da saúde mental não atendidas são, em longo prazo, mais propensas a impactar negativamente a reputação e prática profissionais do que quando se busca ajuda antecipada. Conferir: American Foundation for Suicide Prevention (Fundação Americana de Prevenção ao Suicídio).
Agora pergunto:
Como devem estar os jovens e as jovens estudantes de medicina, internos, residentes, nessa atual explosão de números de escolas médicas, aliada à falta de equipamentos de ensino e de atendimento aos pacientes e, de um número compatível de professores competentes?
Perguntar é delito? Não é!
Acautelar é um dever de veterano do ensino médico.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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