terça-feira, 13 de agosto de 2019

UMA POETISA CEARENSE



Por Sânzio de Azevedo (*)
Desde cedo a poetisa frequentava periódicos como A Quinzena, do Clube Literário
Atualmente nossa terra tem inúmeras poetisas (não uso poeta quando falo de mulheres), mas no século XIX o número era bem menor. Antônio Sales, em texto de 1922, ao tratar de mulheres escritoras, depois de citar F. Clotilde e Emília Freitas, revela: “Logo após surgiu um estro delicado, de um feitio artístico bem acentuado, o de Ana Nogueira, que há longos anos emudeceu, tendo deixado, porém, alguns atestados eloquentes da sua inspiração e do seu bom gosto.”
Ana Nogueira Batista, que assim passou a se assinar quando se casou com o poeta Sabino Batista, um dos fundadores da Padaria Espiritual, nasceu no Icó, em 22 de outubro de 1870, vindo a falecer em Niterói, RJ, aos 96 anos de idade, no dia 22 de maio de 1967, como me informou seu bisneto Luiz Eduardo Nogueira Lerina.
Desde cedo a poetisa frequentava periódicos como A Quinzena, do Clube Literário, ao lado de nomes, alguns consagrados, como Rodolfo Teófilo, Juvenal Galeno, Oliveira Paiva, José Carlos Júnior, Francisca Clotilde e outros. Escreveu em O Pão da citada Padaria Espiritual, e no jornal A República, sendo que neste último conquistou o 1º lugar em um concurso de 1899, com a tradução, do francês, de um soneto de François Coppée.
N’A Quinzena, no número de 28 de março de 1888, assinando-se Ana Nogueira, ela estampou “Teu Olhar”, soneto cujo final diz: “Ao céu azul, sereno e radiante, / Ao claro céu de maio fulgurante, / À branca luz virgínea do luar; // A tudo isto que o universo adora, / As rosas, lírios, aves e aurora, / Prefiro a doce luz do teu olhar.”
Mário Linhares, em sua História Literária do Ceará (1948), transcreve da escritora o soneto “Mater Dolorosa”, de “suave efusão religiosa”, como ele observa: “Vejo-te aqui no transe angustiado / Em que, oh! Santa Mãe, tu mais sofreste. / Que copiosas lágrimas verteste / Sobre este corpo frio, inanimado!... //Bem caro te custou nosso pecado! / Que infinita amargura padeceste / Quando, em teus braços, morto, recebeste/ O teu doce Cordeiro Imaculado! // Mas entretanto, oh! Mater Dolorosa, /A humanidade, sempre criminosa, / Entregue ao vício, entregue à perdição, // - Não te compensa o sacrifício ingente, / Não vê que tu, por nosso amor somente, / Tens sete espadas sobre o coração!”
Ana Nogueira Batista não publicou o livro “Carmes”, anunciado em sua mocidade, mas, aos 94 anos de idade, segundo ainda seu bisneto, aqui referido, seus netos fizeram editar no Rio de Janeiro seu livro Versos em 1964.
(*) Doutor em Letras pela UFRJ; membro da Academia Cearense de Letras (ACL)
Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/07/2016. Opinião. p.11.

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