Por Sânzio de Azevedo (*)
Desde cedo a poetisa frequentava periódicos como A
Quinzena, do Clube Literário
Atualmente nossa
terra tem inúmeras poetisas (não uso poeta quando falo de mulheres), mas no
século XIX o número era bem menor. Antônio Sales, em texto de 1922, ao tratar
de mulheres escritoras, depois de citar F. Clotilde e Emília Freitas, revela:
“Logo após surgiu um estro delicado, de um feitio artístico bem acentuado, o de
Ana Nogueira, que há longos anos emudeceu, tendo deixado, porém, alguns
atestados eloquentes da sua inspiração e do seu bom gosto.”
Ana Nogueira
Batista, que assim passou a se assinar quando se casou com o poeta Sabino
Batista, um dos fundadores da Padaria Espiritual, nasceu no Icó, em 22 de
outubro de 1870, vindo a falecer em Niterói, RJ, aos 96 anos de idade, no dia
22 de maio de 1967, como me informou seu bisneto Luiz Eduardo Nogueira Lerina.
Desde cedo a
poetisa frequentava periódicos como A Quinzena, do Clube Literário, ao lado de
nomes, alguns consagrados, como Rodolfo Teófilo, Juvenal Galeno, Oliveira
Paiva, José Carlos Júnior, Francisca Clotilde e outros. Escreveu em O Pão da
citada Padaria Espiritual, e no jornal A República, sendo que neste último
conquistou o 1º lugar em um concurso de 1899, com a tradução, do francês, de um
soneto de François Coppée.
N’A Quinzena, no
número de 28 de março de 1888, assinando-se Ana Nogueira, ela estampou “Teu
Olhar”, soneto cujo final diz: “Ao céu azul, sereno e radiante, / Ao claro céu
de maio fulgurante, / À branca luz virgínea do luar; // A tudo isto que o
universo adora, / As rosas, lírios, aves e aurora, / Prefiro a doce luz do teu
olhar.”
Mário Linhares, em
sua História Literária do Ceará (1948), transcreve da escritora o soneto “Mater
Dolorosa”, de “suave efusão religiosa”, como ele observa: “Vejo-te aqui no
transe angustiado / Em que, oh! Santa Mãe, tu mais sofreste. / Que copiosas
lágrimas verteste / Sobre este corpo frio, inanimado!... //Bem caro te custou
nosso pecado! / Que infinita amargura padeceste / Quando, em teus braços,
morto, recebeste/ O teu doce Cordeiro Imaculado! // Mas entretanto, oh! Mater
Dolorosa, /A humanidade, sempre criminosa, / Entregue ao vício, entregue à
perdição, // - Não te compensa o sacrifício ingente, / Não vê que tu, por nosso
amor somente, / Tens sete espadas sobre o coração!”
Ana Nogueira
Batista não publicou o livro “Carmes”, anunciado em sua mocidade, mas, aos 94
anos de idade, segundo ainda seu bisneto, aqui referido, seus netos fizeram
editar no Rio de Janeiro seu livro Versos em 1964.
(*) Doutor em
Letras pela UFRJ; membro da Academia Cearense de Letras (ACL)
Fonte: Publicado In: O Povo, de 26/07/2016. Opinião. p.11.
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