sexta-feira, 11 de outubro de 2019

AOS VIVOS: "No país da minhalma" ... e outro causo Blog 11/10/19


No país da minhalma

Só pode é ter sido! Jair Morais Poeta dos Cachorros, ele de novo, 'deve de ter' tomado duas terças de mocororó vencido e ficou mental! Escreveu-me à mão carta com tantas catrevagens transcendentais que até agora estou com o juízo zunindo. Para começar, afirmou inexorável: "Acredite no amanhã, jornalista. Quando o amanhã virar hoje, aí sim, pode começar a duvidar do agora". Deu pra entender?
Reli a frase meia dúzia de cinco ou seis vezes. Pensei, matutei, pedi ajuda ao pessoal do primeiro ano forte. Ninguém soube desvendar a coisa desse iniciado - iniciado na fulerage! Sim, Jair só pode é ser um Hermes da mais alta gaiatice cósmica do outro mundo sideral intergalático! E eu provo. Conta-me que, decepcionado com Beethoven, largará a Banda Marmota dele para ser um grande empresário no ramo de pirulito sem cabo, colírio pro ôi da goiaba, pasta de dente no próprio dedo, escova de cabelo de pentêi de barrão e buchadinha de calango.
Para lograr bom êxito na empreitada (inscrever-se-á em cursos do Instituto Universal Brasileiro), afirma fará consórcio com gente de elevado gabarito. Cita alguns profissionais de expertise que irá buscar: pegador em fio descascado com a mão para ver se tem corrente, engraxate de pata de jumento, barbeiro de bigode de gato, fiscal de banheiro público e assoador de catarro em pau da venta de véi.
Acha que eu estou com prosa? Pois olhe só o ror de produtos que jura exportará já no início do próprio governo: calção de banho pra cachorro d'água, secador de cabelo de milho, pandeiro de couro de fimose, espremedor de espinha de peixe, DVD de mariola e sinalizador de urubu. Especificamente para esses itens, deverá contar com o apoio luxuoso de mexedores de panela pro lado esquerdo, sopradores de cangote de garçom, pintores de penico, manicures de unha de vaca, mestres de obra de fossa e leiteiros de peito de homem.
Finaliza a missiva tonta com poema que diz não ser dele, mas que cabe como uma luva para o momento: "Um dia, com diarreia / No terreiro tirei a roupa / E disse para as galinhas / Vão embora, hoje é sopa". Arre égua, Jair!
Da primeira vez era cidade...
No entretítulo da carta de 46 laudas do Jair (A primeira vez das coisas), o Poeta explica como teria sido a experiência inaugural do homem em vários lances. Exemplo: o primeiro caju saboreado. No início, os colegas neandertalenses chupavam a castanha, amando queimar a boca, e jogavam aos javalis o caju, do qual, a partir da Idade Média, começaria a humanidade a fazer o suco que hoje se bebe.
- Um dia, melado, desgostoso da vida, o bicho de urêa de Nandertal, sem querer, mordeu o pseudofruto, bem docim, e teve a sensação de algo tão bom quanto a presença da mulher em casa.
A outra primeira vez famosa, conforme o Poeta dos Cachorros, foi a descoberta de que o papel higiênico poderia ser o substituto ideal (soft e light) do sabugo - em etapa posterior ao dedo fura bolo propriamente dito. Assim:
- Escrevia Dom François uma carta no mato, escorando o papel na prancheta, quando lembrou do sabugo deixado na escrivaninha. Dedos ágeis na feitura da missiva, observou grosseiros erros de português (lá era francês). O que fez? Chutou o tinteiro e 'se limpou-se' (frente e verso) com o papel, rasurando a 'coisa', em cheio, no tradicional pensamento: "Navegar é preciso..."
Fonte: O POVO, de 16/11/2018. Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.2.

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