Editorial de O Povo
Os atropelos da conjuntura concorreram para que o
registro de uma data tão importante - os 45 anos de fundação da Universidade
Estadual do Ceará (Uece), ocorrido ontem, só seja celebrado hoje, neste espaço.
No entanto, uma efeméride como essa nunca se circunscreve à bitola cronológica,
pois irradia mais além da linearidade do tempo e das amarras espaciais, como tudo
que está relacionado ao saber.
Surgida em 1975, em tempos de constricção do livre
pensar, conseguiu ultrapassar os empecilhos que poderiam ter obstaculizado seu
itinerário e a impedido de estar mais preparada para enfrentar, mais uma vez,
uma conjuntura nacional de horizontes novamente turbados por ameaças de novos
estreitamentos dialógicos. Contudo, desta vez, conta com a experiência
adquirida que lhe permite tirar de seu baú referencial "coisas novas e
velhas" que, devidamente pesadas e repesadas, possam orientá-la nos
incertos caminhos de uma conjuntura nacional nebulosa, em busca de um futuro
mais confiante. Para isso, conta, hoje, com um entorno político regional e
local (que é seu leito), mais dotado de descortino para lhe assegurar uma pista
de voo livre de amarras pretéritas, isto é, de quando lhe faltava esse entorno
democrático para lhe dar a cobertura requerida contra eventuais ameaças de um
poder central de tendência sufocante, em termos de visão de mundo e de
liberdade intelectual.
Seu começo foi naquele 5 de março de 1975, ao incorporar
patrimonialmente as seis escolas originárias: Enfermagem (1943), Filosofia
(1950), Serviço Social (1953), Administração (1961), Veterinária (1963) e
Fafidam (Limoeiro do Norte, 1968). Foram essas unidades que permitiram o
surgimento dos primeiros cursos de graduação aos quais outros foram somados.
Tudo costurado pelo visionarismo de seu primeiro reitor, o professor Antônio
Martins Filho, que com seu reconhecido empenho e dedicação conseguiu, junto às
autoridades federais, o reconhecimento da nova Universidade, diante da promessa
de abrir novas possibilidades de desenvolvimento para o Estado e para a Região.
Hoje, distribui-se por 13 campi presenciais, 28 polos de Educação a Distância (EaD), 45 polos
de educação profissional, 28 mil alunos em 78 cursos de graduação, 93
especializações, 31 mestrados, 15 doutorados, 800 servidores
técnico-administrativos e 1.128 professores, dos quais 60% são doutores ou
pós-doutores, atuando em 173 grupos de pesquisa e atendendo 164 mil pessoas em
projetos de extensão/ano. Trata-se de uma história de sucessos, além
fronteiras.
Seu desafio é ser um instrumento que permita ao povo do
Ceará ter uma base própria de discernimento para traçar o seu futuro, apoiado
no conhecimento e no compromisso indiscutível com a democracia e o pluralismo,
e vacinado contra qualquer investida obscurantista.
Fonte: Publicado In: Editorial de O
Povo, de 6/3/2020. Opinião. p.16.
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