sexta-feira, 22 de maio de 2020

AOS VIVOS: "Guenzo, torto, fora de esquadro..." ... e outros causos


Guenzo, torto, fora de esquadro...
Recapitulando: Dedé Odrex é primo de Dedé Odrin, fabricantes caseiros de veneno pra inseto de pequeno porte - o mucuim, em especial. Um, antípoda do outro. Odrin, calmo, instruído; Odrex, brabo feito um traque, ignorante. Finos comerciantes, adentraram ao palco das mídias sociais. Odrin entendeu de cara o processo. Odrex voava nos pormenores. E o pormenor da hora: como organizar o feed do Instagram. O papo, no bar dos Papudim, começa com o mais sabido.
- O Unum...
- Unum? Conheço o anum, aquele pásso preto, 'molerão', do bico grosso, catador de carrapato em espinhaço de animal... - despacha Dedé Odrex.
- Unum é um aplicativo gratuito que ajuda a organizar o feed do Instagram.
- Fí de... fí de... fí quem?
- O feed do Instagram, ferramenta útil para quem quer...
Aporrinhado com o feed, Odrex ensina ao povo do setor o outro lado da ferramenta:
- Desses aí, só conheço um que presta: o fí de rapariga do meu sogro! Ô véi quintura!
Por que "fora de esquadro"
Dedé Odrex - o brabo - precisava premiar o primogênito Dedezim Odrex à altura, o menino havia tirado 9,5 em matemática. O presente? Um esquadro ("instrumento chato em forma de triângulo retângulo que serve para traçar ângulos retos ou linhas perpendiculares"). Dedezim deu valor.
Dias se passaram. O jovem, na sala vendo TV, sem querer deixa cair no carpete o bolo de chicletes (da marca Ploc) que mascava com gosto de gás. Logo a goma grudou. Grudou e não descolou mais, deixando mondrongo no tapete do chão da sala. Nesse instante o pai vem chegando do trabalho. O pivete, temendo levar carão, bota o pé em cima do malfeito. Sai dali nem a pau. O velho, desconfiado...
- Por que é que tu aí feito estauta?
- Nada, só me espreguiçando.
- E o pé nesse pedaço de tapete? Por um acauso ele terá nascido aí?
- Não, pai, é porque...
Dedezim leva empurrão de Dedézão Odrex e o malfeito é descoberto. Briga feia.
- Vá buscar o esquadro que lhe dei de presente - ordena o velho brabo.
- Taqui, pai...
- Vai levar surra de esquadro pra aprender a ter cuidado com as coisas de casa.
Peia tão medonha que Dedezim Odrex passou um ano caxingando, torto pruma banda, com o parafuso de centro empenado, guenzo, fora de esquadro...
O plágio de Pirandello
Também tomava seus pifões. Cana pura. Era Dedé Odrex versão "boneco federal", "imbuanceiro". E aí Ferrim ganhou do Calouros do Ar e ele foi comemorar com amigos num bar da Rua da Cachorra Magra, chegando tarde da noite, todos já dormindo. Melado, confundiu o gato de casa com um ladrão, a passear solene por entre os santos do altar de Nossa Senhora, e largou a mãozada no rumo - tabefe certeiro que arranca as cabeças de São José, São Francisco e São Jorge, enfileirados. Depois acendeu a luz. E viu a besteira feita. Pôde de bêbo, junta as cabeças e cola uma a uma, precariamente, aos corpos dos santos decapitados. No outro dia, a mulher vê a arrumação e corre pra contar o ocorrido ao marido, ressacado.
- Dedé, um malfazejo entrou aqui em casa essa noite e, só pra fazer o mal, trocou as cabeças dos santinhos do alta. Que tu acha desse corno fí duma égua?
- Assim é (se lhe parece)!
Fonte: O POVO, de 27/06/2019. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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