A
proposta de usar o Estádio Presidente Vargas (PV) como uma megaestrutura
centralizada para atendimento em massa de pacientes possivelmente infectados
por coronavírus foi exposta como se fosse uma operação de guerra, desconsiderando
que nas operações bélicas modernas não se preconiza mais o recurso de hospital
de campanha ou de guerra.
De
fato, nos tempos hodiernos, a logística atual em incursões bélicas é bem
diferente da que se adotava até o segundo quartel do século XX, baseada em
hospitais de campanha, pois o foco de hoje é prestar os primeiros socorros ainda
no front e evacuar, com segurança, os
lesionados, uma vez estabilizados, para hospitais de retaguarda de maior
complexidade técnica.
É
surpreendente saber que a Prefeitura de Fortaleza tenha contratado, por uma
vultuosa quantia, uma empresa especializada em montagem de palcos e estandes
para instalar no PV esse modelo de hospital de campanha, com a previsão de
ficar edificado em um mês, provavelmente no final de abril corrente, quando haveria
a possibilidade do pico epidêmico chegar, Após a passagem desse pico, seguida
da previsível rápida desaceleração da curva epidêmica, com a queda substantiva
do número de casos da Covid-19, resultaria uma estrutura, em princípio efêmera,
prematuramente ociosa e inoperante, restando ao contribuinte assumir os gastos
da desmontagem da obra e do restabelecimento do equipamento ao fito desportivo
original.
Usar
estádios como supostos hospitais de campanha parece ser mais um lance de
marketing governamental do que uma proposição racional. Aliás, as forças
armadas brasileiras têm facilidade e agilidade para montar grandes tendas para
diversos usos, e, certamente, a um custo muito mais em conta do que o
contratado.
Bem
mais lógico, seria montar estrutura provisória de pronto atendimento nos
estacionamentos ou em áreas livres de hospitais, a exemplo do que ocorre no Hospital
Regional da Unimed e nos hospitais de referência estadual (Hospital Geral de
Fortaleza, Hospital São José etc.), tendo o próprio hospital como retaguarda e
evitando contatos entre pacientes em distintas condições de diagnóstico e de
prognóstico.
A
situação em tela denota uma escolha que sangrará o erário municipal e não trará
maiores benefícios aos cidadãos de Fortaleza.
Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Professor titular
de Saúde Pública-Uece
* Publicado In: Jornal do médico digital, 1(1): 54-5,
maio de 2020. (Revista Médica Independente do Ceará).
https://www.jornaldomedico.com.br/wp-content/uploads/JMédico-01-Digital-maio-web.pdf
Nenhum comentário:
Postar um comentário