quarta-feira, 3 de junho de 2020

O ESTÁDIO PRESIDENTE VARGAS NA LUTA CONTRA A COVID-19



A proposta de usar o Estádio Presidente Vargas (PV) como uma megaestrutura centralizada para atendimento em massa de pacientes possivelmente infectados por coronavírus foi exposta como se fosse uma operação de guerra, desconsiderando que nas operações bélicas modernas não se preconiza mais o recurso de hospital de campanha ou de guerra.
De fato, nos tempos hodiernos, a logística atual em incursões bélicas é bem diferente da que se adotava até o segundo quartel do século XX, baseada em hospitais de campanha, pois o foco de hoje é prestar os primeiros socorros ainda no front e evacuar, com segurança, os lesionados, uma vez estabilizados, para hospitais de retaguarda de maior complexidade técnica.
É surpreendente saber que a Prefeitura de Fortaleza tenha contratado, por uma vultuosa quantia, uma empresa especializada em montagem de palcos e estandes para instalar no PV esse modelo de hospital de campanha, com a previsão de ficar edificado em um mês, provavelmente no final de abril corrente, quando haveria a possibilidade do pico epidêmico chegar, Após a passagem desse pico, seguida da previsível rápida desaceleração da curva epidêmica, com a queda substantiva do número de casos da Covid-19, resultaria uma estrutura, em princípio efêmera, prematuramente ociosa e inoperante, restando ao contribuinte assumir os gastos da desmontagem da obra e do restabelecimento do equipamento ao fito desportivo original.
Usar estádios como supostos hospitais de campanha parece ser mais um lance de marketing governamental do que uma proposição racional. Aliás, as forças armadas brasileiras têm facilidade e agilidade para montar grandes tendas para diversos usos, e, certamente, a um custo muito mais em conta do que o contratado.
Bem mais lógico, seria montar estrutura provisória de pronto atendimento nos estacionamentos ou em áreas livres de hospitais, a exemplo do que ocorre no Hospital Regional da Unimed e nos hospitais de referência estadual (Hospital Geral de Fortaleza, Hospital São José etc.), tendo o próprio hospital como retaguarda e evitando contatos entre pacientes em distintas condições de diagnóstico e de prognóstico.
A situação em tela denota uma escolha que sangrará o erário municipal e não trará maiores benefícios aos cidadãos de Fortaleza.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor titular de Saúde Pública-Uece
* Publicado In: Jornal do médico digital, 1(1): 54-5, maio de 2020. (Revista Médica Independente do Ceará).
https://www.jornaldomedico.com.br/wp-content/uploads/JMédico-01-Digital-maio-web.pdf

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