Por Erasmo Miessa Ruiz (*)
Não somos indiferentes ao que ocorre
a nossa volta. Seja por livre vontade, seja por imposição da realidade, temos
que buscar novas maneiras de viver, novos estilos de vida, novas formas de
pensar o mundo.
A pandemia
atingiu a todos. Alguns milionários isolaram-se em alto mar em seus iates.
Outros arriscaram suas vidas para manter hospitais, fábricas e o abastecimento
de produtos de consumo. Muitos, entretanto, permaneceram em casa obedecendo as
regras de distanciamento social.
Começamos então a
desenvolver hábitos "estranhos" como o de lavar as compras ou
transformar a entrada da nossa casa numa "sapataria" para os calçados
utilizados quando saíamos.
Intensificamos o
uso das redes sociais e plataformas de reunião, seja para educação formal, seja
na tentativa de manter rituais como festas de aniversários, velórios e até
cerimônias de casamento.
Muitos
descobriram que trabalhar em casa poderia ser algo que nos afastava do estresse
do trânsito e da violência urbana. Pessoas mudaram hábitos alimentares e
constituíram estilos de vida mais saudáveis para aumentar a imunidade. Famílias
tiveram que aprofundar a comunicação e assim superar problemáticas de
relacionamento.
Livros esquecidos
nas estantes puderam ser lidos e aquele velho filme que marcou a vida pode
agora ser revisto. A natural necessidade de contato humano pôde fazer as
pessoas redescobrirem o quanto banalizavam as grandes amizades agora que tudo
era temperado com o gosto agridoce da saudade de abraços e beijos.
Mas não sejamos
ingênuos. Viver em contenção nos apresentou nova magnitude de conflitos.
Intensificou a violência doméstica, agudizou problemáticas de saúde mental, fez
aumentar o consumo de álcool, colocou em xeque a capacidade de aprender das
nossas crianças, desafiou trabalhadores do aprofundamento da precarização das
condições de trabalho.
É o momento de
colher e manter os bons frutos da mudança. Também é o momento de construir
resiliência para enfrentar os enormes desafios desse admirável mundo novo que
se descortina depois que a pandemia passar.
(*) Psicólogo,
mestre e doutor em Educação e professor associado da Universidade Estadual do
Ceará. Diretor da Editora da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/10/2020. Opinião. p.16.
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