terça-feira, 20 de outubro de 2020

O QUE APRENDEMOS COM A PANDEMIA?

Por Erasmo Miessa Ruiz (*)

Não somos indiferentes ao que ocorre a nossa volta. Seja por livre vontade, seja por imposição da realidade, temos que buscar novas maneiras de viver, novos estilos de vida, novas formas de pensar o mundo.

A pandemia atingiu a todos. Alguns milionários isolaram-se em alto mar em seus iates. Outros arriscaram suas vidas para manter hospitais, fábricas e o abastecimento de produtos de consumo. Muitos, entretanto, permaneceram em casa obedecendo as regras de distanciamento social.

Começamos então a desenvolver hábitos "estranhos" como o de lavar as compras ou transformar a entrada da nossa casa numa "sapataria" para os calçados utilizados quando saíamos.

Intensificamos o uso das redes sociais e plataformas de reunião, seja para educação formal, seja na tentativa de manter rituais como festas de aniversários, velórios e até cerimônias de casamento.

Muitos descobriram que trabalhar em casa poderia ser algo que nos afastava do estresse do trânsito e da violência urbana. Pessoas mudaram hábitos alimentares e constituíram estilos de vida mais saudáveis para aumentar a imunidade. Famílias tiveram que aprofundar a comunicação e assim superar problemáticas de relacionamento.

Livros esquecidos nas estantes puderam ser lidos e aquele velho filme que marcou a vida pode agora ser revisto. A natural necessidade de contato humano pôde fazer as pessoas redescobrirem o quanto banalizavam as grandes amizades agora que tudo era temperado com o gosto agridoce da saudade de abraços e beijos.

Mas não sejamos ingênuos. Viver em contenção nos apresentou nova magnitude de conflitos. Intensificou a violência doméstica, agudizou problemáticas de saúde mental, fez aumentar o consumo de álcool, colocou em xeque a capacidade de aprender das nossas crianças, desafiou trabalhadores do aprofundamento da precarização das condições de trabalho.

É o momento de colher e manter os bons frutos da mudança. Também é o momento de construir resiliência para enfrentar os enormes desafios desse admirável mundo novo que se descortina depois que a pandemia passar. 

(*) Psicólogo, mestre e doutor em Educação e professor associado da Universidade Estadual do Ceará. Diretor da Editora da Uece.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/10/2020. Opinião. p.16.

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