Por Pe. Reginaldo Manzotti (*)
O mês de novembro nos convida a refletir sobre a vocação à santidade, a
qual é inerente a todos nós. Nesse mês, em vista do dia de finados, refletimos
também na efemeridade da vida, e como superar a dor da perda. Viver é um
aprendizado, e experimentar perdas faz parte da nossa trajetória desde que
nascemos, passamos por elas aceitando-as com certa naturalidade, e nesse
caminho adquirimos conhecimento, capacidades e sabedoria.
Contudo, existem também outras áreas de nossa vida em que as perdas
provocam grande sofrimento e precisam ser elaboradas para que não se
transformem em um sofrimento permanente. Estamos vivendo uma situação extrema,
onde muitas vidas foram perdidas para a terrível a Covid 19, causada pelo novo
coronavírus. É difícil de aceitar que aqueles que amamos estavam bem, e de uma
hora se foram. Especialmente quando não podemos velá-los e sepultá-los com a
dignidade que mereciam, para evitar o contagio, medidas necessárias de segurança,
mas difíceis.
As perdas ferem e chorá-las é necessário. Sem dúvida, a perda de alguém
querido é uma das maiores dores que o ser humano pode sentir. Para ela, nunca
estamos preparados.
Deus não mandou a pandemia e quando me questionam sobre o porquê da morte,
sempre faço questão de reforçar que essa nunca foi a vontade de Deus. A morte é
uma contingência humana, ou seja, faz parte da fragilidade do ser humano e
entrou no mundo pelo Pecado Original. “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado
no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens,
porque todos pecaram” (Rm 5, 12).
A perda provoca em nós uma reação imediata que é chamada de luto.
Trata-se de um processo que pode se estender por mais ou menos tempo, e a
maneira de vivenciá-lo depende de cada um e do quão significativo é aquele ou
aquilo que foi perdido. Segundo os especialistas, em geral o luto é marcado,
num primeiro momento, pelo choque diante do inesperado ou do incontrolável,
gerando uma espécie de anestesia, principal indicador de que a perda ainda não
foi assimilada.
Depois, vem a fase em que a “ficha cai”, como se diz popularmente. Nela,
entendemos a dimensão do ocorrido, mas resistimos em aceitar; muitos chegam a
acreditar que irão acordar e a realidade será outra. Quando, finalmente,
percebemos que nada mudará, vem o sofrimento, o choro, a falta que a pessoa
começa a fazer. Então, chega o momento da revolta e também da culpa, quando
entra em cena o “se”: “se tivesse feito diferente”, “se isso...”, “se aquilo...”
Por fim, como em outras perdas, chega a aceitação e o necessário retorno à
rotina.
Fiz essa detalhada descrição para enfatizar que é muito importante
vivenciar integralmente o luto e, assim, conseguir superar a perda e continuar
a viver. Não podemos ignorar a ausência de um ente querido, mas temos de
aprender a seguir em apesar disso, evitando a instalação de um sofrimento
desordenado e duradouro, que traria consequências negativas para a saúde do
corpo, da mente e do espírito. No caso da morte, superar a perda não significa
esquecer aqueles que amamos e já partiram, pois o amor não termina com a
interrupção da vida biológica. O amor é redirecionado. Os mortos não fazem mais
parte da nossa vida terrena, mas continuam em nosso coração e, se dóceis à graça
de Deus, no céu. A saudade e a lembrança devem ser cultivadas; o sofrimento,
não.
A fé é determinante para encarar a morte como início de nova etapa, e seu
fundamento está na Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e na certeza de
que Aquele que O ressuscitou também nos ressuscitará, como ensina São Paulo: “Deus, que ressuscitou o Senhor,
ressuscitará também a nós pelo seu poder“ (1 Cor 6, 14).
(*) Fundador e presidente da
Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de
Guadalupe, em Curitiba (PR).
Fonte: O Povo, de 21/11/2020.
Opinião. p.16.
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