Por Tales de Sá Cavalcante (*)
Há
51 anos, nos porões da Ditadura, Caetano Veloso viu uma foto a mostrar a
magnanimidade do azul de um sólido quase esférico: a inédita vista da Terra a
partir do espaço sideral. E surgiram lindos versos, entre os quais:
"Quando eu me encontrava preso / Na cela de uma cadeia / Foi que eu vi
pela primeira vez / As tais fotografias / Em que apareces inteira / Porém lá
não estavas nua / E sim coberta de nuvens". Era criada a música Terra.
Em
22 de setembro, às 10h31min, o Sol se alinhou ao plano do Equador, com sua luz
a incidir da mesma forma sobre os dois hemisférios. Abriram-se as pétalas.
Naturalmente, brotaram as flores. A Natureza (com N maiúsculo, como desejamos)
reciclou-se na esperança de que as pessoas rejuvenescessem. Chegou a Primavera,
a trazer boas e novas lições de vida. Podemos aproveitar esta estação para
iniciarmos uma nova era nos cuidados com o meio ambiente.
Vivemos
numa sociedade que muito maltrata o nosso planeta, a ponto de uma minoria planificar
um sólido redondo. E uma maioria acredita que, para ser feliz, é preciso
acumular bens tangíveis, pois o consumismo instituiu a ilusão da felicidade que
se compra, de acordo com uma visão puramente materialista.
As
lições de preservação ainda não foram aprendidas. E, às vezes, quem ensina é
alguém ainda na adolescência, como Greta Thunberg e Malala Yousafzai, aliadas
aos princípios da Unesco, a provar ao mundo que ser uma voz ativa por causas
como Educação, Direitos Humanos e Meio Ambiente independe de idade, gênero,
raça, crença.
Faltam
mediadores entre os que defendem o progresso em detrimento da proteção
ambiental e os que praticam a recíproca. Um paradigma similar ao das escolas
que preparam para a vida a esquecer os desafios e das que, voltadas a estes,
desprezam os valores humanos. Também aqui, a virtude está em fazer as duas
coisas. E, no caso da Natureza, realizar ambas significa conseguir o sonhado
desenvolvimento sustentável.
Que
os terráqueos cuidem bem de sua morada porque, como versou e musicou Caetano,
"Terra, Terra / Por mais distante / O errante navegante / Quem jamais te
esqueceria?
(*) Reitor do FB
UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia
Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, Opinião, de 5/11/20. p.18.
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