Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)
Sempre é bom recordar manifestações e atitudes
de pessoas puras e sinceras. Gostaria de lembrar neste resumido texto a figura
do inesquecível Zé Limeira. Torcedor do Ferroviário, admirador e amigo dos
radialistas e comentaristas esportivos, bem como conhecedor da antiga música
popular brasileira: Noel Rosa, Pixinguinha, Chico Alves, Marlene, Orlando Silva
e muitos outros. Zé, como eu o chamava, foi o chefe dos engraxates no antigo
Abrigo Central, próximo à praça do Ferreira. O Abrigo Central era um espaço
extremamente democrático. Lá você encontrava políticos importantes,
empresários, vendedores de mercadorias diversas, pedintes etc. Era o lugar onde
Zé Limeira passava o dia. Gostava muito de política, não pertencia a nenhum
Partido, conseguia ser amigo de todo mundo. Por torcer pelo Ferrim, como eu,
surgiu a nossa amizade. Passou a me acompanhar nas três campanhas políticas
para Deputado Federal. Percorremos vários municípios do Estado do Ceará, sempre
por terra, numa D-20 e depois numa Ford Ranger. Viajávamos três: o motorista,
chamado de sargento Garcia, por pesar mais de 110kgs, o Zé Limeira, que era o
meu “marketeiro” e eu. Campanhas cansativas e muito difíceis. Não tinha
dinheiro. Certo dia, chegamos num pequeno povoado, em busca de 120 votos,
conforme disse o cabo eleitoral. Era a festa do Padroeiro: quermesse, roda
gigante etc. Houve o bingo de uma “porca”. Zé comprou uma cartela e ganhou. Foi
receber o prêmio e lhe deram uma “porca” de bicicleta. Danou-se, brigou com
quem estava lá, mas conseguimos tirá-lo da confusão e sair com rapidez. Perdi
os 120 votos. Todavia, ganhei muito mais por trabalho do Zé. Ele não sabia ler
e nem escrever, no entanto fez dois livros: “Lembranças e lambanças”. O
primeiro foi apresentado pela grande Raquel de Queiroz e o segundo tive a honra
de prefaciá-lo. Assim era o Zé Limeira. Saudades.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do
Ceará.
Fonte: Diário
do Nordeste, Ideias. 4/12/2020.
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