Finalmente o ano de 2020 expirou. Grosso modo, para a humanidade, foi um ano atípico, mas para a maioria dos seres humanos foi um Annus Horribilis, enquanto, para alguns, que saíram no lucro, locupletando-se com a desgraça alheia, pode-se até dizer que ele foi um Annus Mirabilis, ou seja, o horrível para muitos figurou como maravilhoso para uns poucos.
Em 17/03/2021, depois de participar da reunião que instalou o “Grupo
de Trabalho de Enfrentamento à Covid-19 da Universidade Estadual do Ceará”,
para o qual fui indicado membro efetivo por portaria do Magnífico Reitor da
UECE, o Prof. Jackson Sampaio, decidi recolher-me no recôndito do lar para
reduzir o grau de exposição ao novo coronavírus, uma vez que pertenço a grupos
de maior risco à Covid-19, tanto por faixa etária como por portar comorbidades.
Em vista disso, na vigência do distanciamento social determinado
pelas autoridades sanitárias, adotei um isolamento mais ampliado, engajando-me
no teletrabalho (homework), que me foi
extremamente produtivo.
Hoje, 31/12/2020, completo 287 dias de um confinamento domiciliar
relativo, flexibilizado após os três meses iniciais de reclusão, o qual é apenas
ocasionalmente rompido por motivos superiores, diante da impossibilidade da tarefa
ser realizada remotamente.
Com efeito, ao longo de um período superior ao tempo de gestação
do Homo sapiens, em que permaneci sob
isolamento, consegui dar cumprimento à maior parcela das múltiplas atribuições
profissionais e intelectuais que fazem parte do meu cotidiano.
Além das atividades rotineiras que desenvolvo em anos típicos, a
chegada da Covid-19 trouxe-me outras demandas específicas que precisei assumir
como sanitarista e formador de opinião e sobretudo como cidadão que, a despeito
de não atuar como médico na linha de frente prestando cuidados de saúde às
vítimas da presente pandemia, creio ter podido responder proativamente, oferecendo
a minha contribuição ao embate contra essa epidemia avassaladora.
Em que pese essa substantiva produção intelectual, devidamente a
ser incorporada ao meu curriculum vitae,
bem melhor seria, para mim, se ela não tivesse existido, pela supressão do fator
desencadeante, caso não estivéssemos experimentando tantos sofrimentos e perdas
à conta do SARS-CoV-2.
Motivado pelo advento das vacinas específicas contra a Covid-19,
espera-se que esse Annus Horribilis parta
sem demora e leve junto o novo coronavírus aos confins do universo, longe e ao
largo da espécie humana.
Roguemos ao Pai para que o Ano Novo que se avizinha seja um
verdadeiro Annus Mirabilis, desta
feita para toda a humanidade.
Marcelo
Gurgel Carlos da Silva
Professor
titular de Saúde Pública da UECE
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