domingo, 31 de janeiro de 2021

A EXUMAÇÃO DO GENERAL SAMPAIO

          O general Antônio de Sampaio, nascido em Tamboril, em 24 de maio de 1810, e falecido em Buenos Aires, em 6 de julho de 1866, foi um herói da Guerra do Paraguai. Considerado um dos maiores militares da história do Brasil, participou das principais guerras travadas pelo exército ao longo do século XIX, vindo a falecer a bordo do navio Eponina, na sequência dos três ferimentos produzidos por balas e estilhaços de granada (dois nas costas e um na coxa) recebidos na Batalha de Tuiuti, no dia 24 de maio de 1866. Por sua bravura nos campos de batalha, o general Sampaio é o patrono da arma de Infantaria no Brasil. O general morreu em consequência da gangrena na perna atingida.

Em 24 de maio de 1966, ao ensejo dos Centenários de sua morte e da Batalha de Tuiuti, seus restos mortais são removidos do cemitério S. João Batista para um mausoléu na Avenida Bezerra de Menezes, em Fortaleza, onde permaneceram até 24 de maio de 1996, ocasião em que os seus despojos foram trasladados para o Panteão Brigadeiro Sampaio, erguido na parte frontal da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, sede do Quartel-General da 10ª Região Militar, onde passaram a repousar, em definitivo.

Quando da exumação do seu corpo, no cemitério de Fortaleza, em 1966, seus restos mortais foram periciados por um professor de Patologia da UFC, sob a assistência de vários militares de alta patente do exército brasileiro.

Durante a perícia, o patologista pinça um pequeno corpo esférico enegrecido, e quando o examina, com maior cuidado, desperta a curiosidade do oficialato ali presente. Um deles, mais afoito, e na expectativa daquele achado necroscópico, indaga ao mestre:

– É a bala!? Foi a bala que o matou?

– Não! Isso não é uma bala – afirmou, com segurança, o legista.

– E então, professor, do que se trata? – Arguiu um oficial-comandante.

– Isso é apenas cocô – retrucou o médico.

– Mas como pode ser cocô, com esse formato de bala? – Contestou outro oficial, visivelmente decepcionado com o resultado da autopsia.

Ao que o professor, peremptoriamente, diagnosticou:

– É simplesmente merda. Bosta ressequida ao longo do tempo.

A partir daí, com a plateia emudecida, a exumação seguiu sem qualquer interrupção ou interesse da parte dos militares.

Marcelo Gurgel Carlos da Silva

Ex-Presidente da Sobrames-Ceará

* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Meia-volta, volver! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2014. 112p. p.67-68.

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