Por Weiber Xavier (*)
A
pós mais de sete meses tratando pacientes com Covid-19, contrai a doença e ela
seguiu seu curso inflamatório e protrombótico de forma inexorável. Febre, tosse,
mialgia e fadiga culminaram com falta de ar em repouso e não fosse a
intervenção, tempo, zelo e dedicação da equipe médica pelos doutores André
Albuquerque, Bruno Cavalcante, Juvêncio Câmara, Ronald Pedrosa e Randal Pompeu
certamente teria outro desfecho.
Saber
das possíveis complicações como médico nos expõe a uma angústia extra. São
tempos de solidão, isolamento e inquietações. Felizmente recebi dentre o
tratamento na UTI oxigênio em alto fluxo e com o "Elmo", capacete
salvador criado pelo brilhante pesquisador e amigo Marcelo Alcântara que me
assistiu providencialmente, consegui superar a insuficiência respiratória sem
precisar ser entubado.
Não
existe sensação mais angustiante do que não conseguir respirar normalmente e
saber que a qualquer momento você pode perder sua autonomia, ser sedado e
entubado. Lembrei-me inevitavelmente dos nossos pacientes que ficaram dias na
UTI em estado grave...Tempo de deserto de ar. Em tempos de desesperança vem
então a solidariedade e a ajuda através do apoio, mensagens e orações da
família, amigos e colegas
A
solidariedade e a generosidade são dentre muitas lições a aprender nessa pandemia.
Felizmente já em casa me recuperando desse pesadelo estou me redescobrindo e
reaprendendo como pessoa e tentar retomar a assistir meus pacientes e às aulas.
Estar "do outro lado" nos torna mais sensíveis ao sofrimento.
Acredito que todos temos um papel de servir, certamente faria tudo novamente.
Nesses
tempos desafiadores encontraremos sempre alguém a nos ajudar e certamente
diante de tantos outros sofrimentos o meu foi menor, mas único e espero que me
permita retornar melhor como pessoa, médico e cidadão. O deserto que passei me
trouxe essa inquietação e espero que enquanto sociedade possamos encontrar
oásis para os tantos que sofrem por fome, por solidão, por injustiça por tantas
outras inquietações.
E
que nossa inteligência e energia cearenses possam encontrar respostas como o
"Elmo" para essa terrível doença. Que Deus os abençoe
ricamente.
(*) Médico
e professor de Medicina da UniChristus.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/11/2020. Opinião. p.18.
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