Fala-se que, nos idos dos anos cinquenta ou sessenta, um tenente recebeu de um capitão a incumbência de providenciar a pintura de um banco de madeira na sede de um quartel do exército, conforme ordem de serviço do coronel que comandava aquela guarnição, por meio de uma ordem de serviço.
A ordem de serviço, baixada
Para evitar colocar uma tabuleta, com os dizeres: “TINTA FRESCA”, o
zeloso tenente, que estava como o oficial do dia, no início de um final de
semana, determinou a instalação de um sentinela, que deveria vigiar o banco,
impedindo que as pessoas nele viessem a se sentar. Assim foi feito nos dias
subsequentes: a cada doze horas, fazia-se a substituição da guarda de plantão
Ocorre que esse tenente, na semana seguinte, foi transferido para
servir em outro estado, tendo deixado o quartel em questão.
Passados vinte anos, o tenente prosseguiu na sua carreira militar
galgando as promoções a capitão, major e coronel, atuando em diferentes locais,
incluindo guarnição de fronteira, sendo designado, finalmente, para exercer o
comando do antigo quartel em que servira, no começo de seu oficialato.
Como novo comandante, assim que assumiu o comando dessa unidade
militar, o coronel achou estranho que, durante as 24 horas, havia sempre um
soldado armado, com revezamento em certas horas do dia, de modo a deixar sempre
um recruta ali, de prontidão, defronte ao dito banco.
Como era um recinto intramuros e sem qualquer sentido estratégico
ou de segurança do edifício, o coronel chamou um veterano sargento, que ali
servia há muito tempo, e perguntou:
– Qual é a razão daquela
guarda permanente postada em frente ao banco?
Ao que o seu subordinado respondeu:
– Não sei exatamente,
senhor! Sempre se faz essa troca de guarda, senhor!
– Há quanto tempo isso vem
ocorrendo, sargento? – Indagou o oficial.
– Há, pelo menos, uns
vinte anos, senhor! Desde quando eu cheguei aqui, há quase vinte anos, para
servir nessa cidade, esse procedimento já estava em curso.
Aí, então, o coronel lembrou-se da medida que adotara, poucos dias
antes de sua saída desse quartel. Como decorrência de sua antiga ordem, não
cancelada por outra contra-ordem, por duas décadas, diariamente, fez-se a troca
da guarda de um banco.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Ex-Presidente da Sobrames-Ceará
* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Meia-volta, volver! Médicos
contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2014. 112p. p.69-71.
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