Por Roberto da Justa Pires Neto (*)
Passados
12 meses do surgimento da infecção pelo novo coronavírus, a pandemia segue seu
curso sem sinais de recuo e já representa tragédia humana sem precedentes. No
Brasil, talvez veremos o futuro repetir o passado. Apesar de dados pouco
confiáveis do Ministério da Saúde, entraremos 2021 com oito milhões de
infectados e 200 mil mortos. No Ceará, a Covid-19 já ceifou quase 10 mil
cearenses em menos de 10 meses. Há também os sequelados em número desconhecido.
E os duplamente vitimados pela doença e pela desigualdade social e econômica.
O
Brasil é um dos poucos países que sequer saíram da primeira onda da pandemia.
Voltou a número crescente de casos e óbitos. As causas são várias, mas a falta
de planejamento e coordenação das ações pelo Governo Federal tem sido
determinante. O que dizer de um Ministério da Saúde transformado em quartel,
que dá as costas para a ciência e adota antimaláricos e vermífugos como
principal "medida" de combate a um vírus?
O
que dizer de lideranças que minimizam a gravidade da pandemia, não se importam
com as mortes e se negam a aderir ao uso de máscaras? E quando toda essa
distopia recebe apoio até de entidades como o Conselho Federal de Medicina e a
Associação Médica Brasileira?
No
Ceará, o número de casos e internamentos voltou a subir, com o afrouxamento das
medidas de distanciamento. O risco de mais vítimas e nova sobrecarga do sistema
de saúde público é grande. Os profissionais de saúde estão esgotados e
insatisfeitos com a precarização dos vínculos de trabalho. O acesso à
realização de exames continua restrito. Os leitos provisórios não se
transformaram em definitivos. Surtos de outras doenças (dengue, chikungunya,
influenza) voltarão com as chuvas. E a desigualdade social, mãe de todos os
males, continuará aumentando. As principais vítimas serão de novo os mais
pobres, negros e pardos e moradores de regiões com menor IDH.
A
esperança é a chegada de vacinas. Para os brasileiros, não se sabe quando, nem
como. Mas tudo indica que seremos um dos últimos a iniciar a vacinação. Até lá,
milhares de vítimas. "E daí?". Pobre 2021. Já nasce velho.
(*) Médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 30/12/2020. Opinião.
p.17.
Nenhum comentário:
Postar um comentário