As sete vidas de Mané Gato
Stepherson
Macedo Queiroz Jereissati (Paraíba) mente que o caneco apita. Contou-me lorota
essa semana que prometo investigar 1% de verdade. É de um tio "canoeiro" afamado, que o
corpo morria, mas a alma segurava o cabresto e aí se realizavam os tais
milagres da vida. Morreu seis vezes, mas ressuscitava a seguir; na sétima,
papocou vogando. Chamava-se Mané Gato, tomava uma cana amuada.
A primeira
morte a gente nunca esquece
Tinha
seis filhas. À hora do velório, faltando 10 minutos para o sepultamento,
funcionários da funerária já se aproximando do esquife, uma das meninas parte
para cima: "Não levem papai, deixem o bichim!" Pessoal se comovia e Mané Gato
ficava. Nessa brincadeira, já lá se iam 72 horas de corpo velado.
É
quando chega a parteira dona Gilda, que vê a venta do morto "iscumando" e age sem
detença. Pega um litro de álcool a 70%, ensopa no algodão e passa de leve na
boca de Mané Gato. Ao fazê-lo, o agora ex-morto bota a língua pra fora e lambe
os beiços. Abre os olhos. "Ficou todo mundo besta". Levantou-se,
pediu mais algodão e álcool e limpou a venta.
Morte dois
Vindo
do mercado com a feira do mês, levou tombo na parede do açude, caiu na água e
afundou. Todos o procuraram e nada. Reservatório imenso. Após três dias, o
corpo sobe. Vento bate e o arrasta até a beirada, onde os amigos Souzinha e
Meia Noite "comemoravam-lhe a partida, tomando umas lapadas, bebendo o corpo". Ocorre que um
pingo na malvada cai-lhe nos olhos e o antigo defunto se anima. De pingo em
pingo, torna a viver como se nada tivesse acontecido.
O terceiro
desaparecimento
Foi
na Pitombeira. Soltou-se o leão do circo. Nosso protagonista estava com dois
litros de zinebra no bucho. Resumindo, o leão engoliu Mané. Mas a comida causou
um revertério tão grande nas tripas do selvagem animal que o bicho vomitou
"a vítima do jeito que o tinha engolido". PS: o rei dos animais morreu de
tristeza.
O quarto
decesso
Causa
mortis: coice de burro. A chapuletada quebrou o pescoço do pinguço. Daí,
esfregaram gases ensopadas no álcool em gel na parte afetada (calombo medonho)
e Mané se levanta animado com a parte lombrativa do medicamento, já comemorando
o regresso ao palco da existência física.
A quinta
"batida de rabo no canto da cerca"
Vinha
ele da cidade, em lombo de jumento, e um ônibus da "Expresso Ispressa" os colhe de
cheio. Adeus Mané Gato e a montaria. Enterram os dois em vala comum. E nada de
Mané Gato bater a caçoleta. São Pedro não distinguia Gato de jumento e ordena
voltem a terra na mesma pisada.
Sexto óbito
O
sino da Igreja de Santo Antônio caiu na cabeça dele. Sua madrinha de crisma,
sabedora da devoção do afilhado pelo padroeiro, colocou a imagem de gesso do
santo no peito do morto. Imaginando fosse uma garrafa, suas mãos se movem até a
cabeça de Antônio de Pádua e fala: "Cadê a tampa?" Revive e cai na
gandaia.
Até que um
dia, babau...
Tinha
acabado de chupar uma manga coité, após a janta, sempre acompanhada de uma
talagada, quando, acreditem, teve um passamento e morreu de repente.
Fonte: O POVO, de 15/05/2020.
Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos.
p.2.
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