sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Crônica: “As sete vidas de Mané Gato” ... e outros causos

As sete vidas de Mané Gato

Stepherson Macedo Queiroz Jereissati (Paraíba) mente que o caneco apita. Contou-me lorota essa semana que prometo investigar 1% de verdade. É de um tio "canoeiro" afamado, que o corpo morria, mas a alma segurava o cabresto e aí se realizavam os tais milagres da vida. Morreu seis vezes, mas ressuscitava a seguir; na sétima, papocou vogando. Chamava-se Mané Gato, tomava uma cana amuada.

A primeira morte a gente nunca esquece

Tinha seis filhas. À hora do velório, faltando 10 minutos para o sepultamento, funcionários da funerária já se aproximando do esquife, uma das meninas parte para cima: "Não levem papai, deixem o bichim!" Pessoal se comovia e Mané Gato ficava. Nessa brincadeira, já lá se iam 72 horas de corpo velado.

É quando chega a parteira dona Gilda, que vê a venta do morto "iscumando" e age sem detença. Pega um litro de álcool a 70%, ensopa no algodão e passa de leve na boca de Mané Gato. Ao fazê-lo, o agora ex-morto bota a língua pra fora e lambe os beiços. Abre os olhos. "Ficou todo mundo besta". Levantou-se, pediu mais algodão e álcool e limpou a venta.

Morte dois

Vindo do mercado com a feira do mês, levou tombo na parede do açude, caiu na água e afundou. Todos o procuraram e nada. Reservatório imenso. Após três dias, o corpo sobe. Vento bate e o arrasta até a beirada, onde os amigos Souzinha e Meia Noite "comemoravam-lhe a partida, tomando umas lapadas, bebendo o corpo". Ocorre que um pingo na malvada cai-lhe nos olhos e o antigo defunto se anima. De pingo em pingo, torna a viver como se nada tivesse acontecido. 

O terceiro desaparecimento

Foi na Pitombeira. Soltou-se o leão do circo. Nosso protagonista estava com dois litros de zinebra no bucho. Resumindo, o leão engoliu Mané. Mas a comida causou um revertério tão grande nas tripas do selvagem animal que o bicho vomitou "a vítima do jeito que o tinha engolido". PS: o rei dos animais morreu de tristeza.

O quarto decesso

Causa mortis: coice de burro. A chapuletada quebrou o pescoço do pinguço. Daí, esfregaram gases ensopadas no álcool em gel na parte afetada (calombo medonho) e Mané se levanta animado com a parte lombrativa do medicamento, já comemorando o regresso ao palco da existência física.

A quinta "batida de rabo no canto da cerca"

Vinha ele da cidade, em lombo de jumento, e um ônibus da "Expresso Ispressa" os colhe de cheio. Adeus Mané Gato e a montaria. Enterram os dois em vala comum. E nada de Mané Gato bater a caçoleta. São Pedro não distinguia Gato de jumento e ordena voltem a terra na mesma pisada.

Sexto óbito

O sino da Igreja de Santo Antônio caiu na cabeça dele. Sua madrinha de crisma, sabedora da devoção do afilhado pelo padroeiro, colocou a imagem de gesso do santo no peito do morto. Imaginando fosse uma garrafa, suas mãos se movem até a cabeça de Antônio de Pádua e fala: "Cadê a tampa?" Revive e cai na gandaia.

Até que um dia, babau...

Tinha acabado de chupar uma manga coité, após a janta, sempre acompanhada de uma talagada, quando, acreditem, teve um passamento e morreu de repente.

Fonte: O POVO, de 15/05/2020. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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