Chuva de granito
Deixou
de fazer parte do anedotário e, de vera, desabou do céu, em pleno sertão do
Ceará, a tal "chuva que cai em forma de grãos de gelo; chuva de
pedra", que a todos admirou, assustou. Foi de madrugada. Meia hora de
precipitação estranha.
A
pancadaria dos "tijôlo caídos lá de riba na copa dos pé de pau"
acordou a famiarança de seu Ciço Cololó, sertanejo gentil, mouco das oiças. Ele
mesmo nada ouviu, mas pressentiu algo baruiento. Atendendo ao chamado de pavor
da mulher, correu em busca do alpendre de casa. Candeeiro alumiando o terreiro
e lá estavam "os rebôlo medonho. Uma péda daquelas, na cabeça dum menino,
era golpe grande". Ciço não pegou na pedra, por medo de pecar.
- Os vizim tão dizendo que foi chuva de granizo - informou a mulher.
Cololó
guardou o nome na cabeça, do jeito que ouviu, no rumo. Na manhã seguinte à
experiência de fim de mundo naquele fim de mundo, o pau que rolava era "a
chuva do papôco da madrugada". Emissora de televisão da capital chega ao
local. Repórter pergunta ao bondoso matuto sobre o fenômeno único no estado,
especialmente naquele verão. Cololó, com um "xêxo" de pedra - que
enfeitava a mesinha da sala de casa na mão...
- Taqui, dotô. Pense numa chuva de granito! Só sobrou esse, o resto se
esfarinhou todo!
Crise é oportunidade!
Empresários
amigos - dos ramos de chip de rapadura pra celular, caneta azul só pro pessoal
do Mobral, máquina de lavar ânus de cobra de duas cabeças, elixir de batata
doce e de gás natural pra carrapato - estão precisando para admissão imediata
dos seguintes profissionais - levar currículo:
- furador de fila do INPS
- inventor de coisa ruim
- bandeirinha de futebol de botão
- soldador de fundo de balde
- alisador de cabelo pixaim com martelo
- psicólogo de peru de roda
Enquanto chega o Dicionário da Fala Cearense...
Apostá duzentim
- Apostar duzentos reais
Cair na besteira de... - Cometer tamanha infantilidade
Da mêi dia pra tarde - Do meio dia para a tarde, a partir das 12 horas
Demora mais que parto de burro - Só falta não acabar mais
É muito tabaco esse... - É de mui péssima qualidade, procedência,
categoria
Estar numa roedeira medonha por alguém - Apaixonada(o) toda(o)
Fazer o nome do pai - Benzer-se com o Pelo Sinal
Impinimar -
Insultar, fazer hora, tirar a terreiro
Mêa môca
- Um tanto surda
Munduru -
Ruma de coisas, de gente
Passar por baixo da mesa - Ficar sem comer (o almoço, a janta...)
Pedir pra cagar e sair - Desistir, às vezes covardemente
Pegue na minha e balance! - Toque cinco, aperta esses ossos
(aperto de mão)
Piula nenhuma!
- Coisa nenhuma, porra nenhuma!
Pó patapá taio
- Pó para tapar talho
Tiú em tambor
- Bicho pra feder muito
Uma coisinha véa de nada - Algo minúsculo
Fonte: O POVO, de 29/05/2020.
Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos.
p.2.
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