Quase, quase! Numa peinha de nada!
Final
dos anos 1960, quando por aqui chegaram as então temíveis abelhas italianas e
africanas. Quem de uma delas recebesse a picada podia considerar-se nas plagas
do muito além. Aconteceu comigo, em Pacajus. Meu pai e amigos, percorrendo o
terreno e eu, maluvido, no meio dos adultos. Sucede que a abelha venenosa
lascou a "mordida" no meu cabilôro, rapidinho inchando a área. Aos
gritos, certo que ia papocar com linha e tudo, pedi penico. Mijaram em cima e
eu fiquei curado.
Agora
mesmo, o receio de contrair o vírus é tanto que qualquer sopro pode soar fatal.
Confiram dois causos reais; quero cegar na hora da morte se estiver mentindo.
1:
O martelo na mão do amigo Jotinha, dando de pau na cabeça dum prego numa
"tauba" da sala, muda de direção e... bufo! Direto na cabeça do
cata-piôi dele. Dedo dessa grossura. E o caba gritando:
- "Lasquei-me, Tonha! Babau, mulher! Traga a
máscara, o álcool em gel e a rezadeira! Ligeiro bala!"
2:
O amigo Maguin, gente finíssima, estava numa crise de sinusite daquelas, com
todos os sintomas clássicos - cansaço, obstrução nasal, tosse, perda de
apetite, febre, dor de cabeça. Pensou consigo, após espirrar que quase o pau da
venta "avua": "Agora arrombou! Do primeiro ao quinto! Tô com a
coisa!!!" Tomou umas piulas e tentou dormir. A mulher, devota de Nossa
Senhora, inventou de fazer umas rezas fortes ao lado da cama de Maguin.
Ajoelhada,
a um metro do meu amigo ainda deitado, a esposa começa a orar. Vestia camisola
preta com um véu branquinho na cabeça - de óculos escuros. Numa mão, a imagem
de Nossa Senhora dos Remédios; na outra, cinco rosários, a debulhá-los de olhos
fechados. Detrás, acima de sua cabeça, divisava-se uma vela de sete dias a
iluminar o quarto. Nesse cenário, Maguim desperta. Aos poucos abrindo os olhos,
depara-se com a arrumação e, num misto de impressionado e abatido, dispara:
- Ó, meu Deus! Se querias a minha presença no teu
regaço, por que não mandaste um zap, um recado no Instagram? Eu ainda tinha
tanta coisa pra fazer por aqui...
Era
tão somente uma inflamação da mucosa dos seios nasais.
Poeta Jair Moraes e o 'bichim miúdo que deixa nós
em casa'
Atentem
para o conjunto diário de ações que o poeta dos cachorros aprendeu a fazer no
isolamento.
- Passear no shopping sem sair da varanda; fazer
grappete com quissuco de groselha; palitar dente com palito de fósforo; passar
o pano em casa só no pensamento; jogar porrinha apostada - picolé pardal;
enfiar peido em barbante; cortar o pão (sempre daqui pra lá) sem deixar farelo
no teclado do computador; urinar com o vaso da privada levantado sem melar o
corredor; espantar mosca estilo Pedro Bial: só na moral - fazendo careta pra
elas.
E
mais estas: prender a respiração por oito horas seguidas; enxergar no marido o
Brad Pitt depois da gripe; ficar na sala de biquíni, como se estivesse numa
barraca da Lagoa do Tabapuá; fazer máscara com os dedos; transformar água da
torneira em vinho tinto; ficar na varanda esperando o carteiro que não virá;
roncar dia sim, dia não; e armar uma rede quando der vontade de fazer
exercício.
Fonte: O POVO, de 1/05/2020.
Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos.
p.2.
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