terça-feira, 9 de março de 2021

O "NOVO NORMAL" É SUSTENTÁVEL?

Por Henrique Soárez (*)

Não é prudente usar a expressão "novo normal" enquanto os orçamentos não estiverem equilibrados. Todo e qualquer orçamento: do país, da empresa, da família. Estamos vivendo dentro dos nossos próprios meios? O mundo de agora é sustentável? Estamos investindo para colher à frente ou consumindo o que acumulamos no passado? Ou, pior ainda, pedindo emprestado ao futuro?

O esforço para eliminar o lixo plástico deu lugar a restaurantes que embalam talheres, guardanapos, copos e pratos. A busca pela eficiência energética deu lugar ao ar-condicionado ligado em salas com janelas abertas. Podem ser adaptações necessárias, mas somente sob a ótica da sustentabilidade saberemos o que veio para ficar. Enquanto os orçamentos estiverem desequilibrados não se pode inferir estabilidade.

Chegamos então ao papel do governo. As intervenções estatais foram oportunas no auge da pandemia. Mas o bom governante precisa removê-las tão logo seja possível. No dia-a-dia das escolas há alunos achando bom fazer como trabalho de equipe as provas que deveriam ser individuais e sem consulta. Há empresários tomando por permanentes as vantagens das suspensões de contrato, sem perceber que nenhum país subsiste quando o governo paga os salários da iniciativa privada.

A dívida pública nacional irá saltar de 76 para 92% do PIB em um ano. O desemprego superou 14% em outubro. Em Fortaleza a cesta básica de outubro era 18% mais cara que em janeiro. E mesmo assim, os relatórios de mobilidade do Google indicam que os fortalezenses estão visitando supermercados e farmácias com frequência 8% maior que no início do ano.

O arcabouço legal que busca evitar que políticos gastem mal o dinheiro do povo foi suspenso quando o Congresso reconheceu o estado de calamidade pública. O novo coronavírus já se tornou uma infecção endêmica, e entretanto os órgãos fiscalizadores ainda não exigem o retorno à responsabilidade orçamentária. As intervenções estatais funcionam como um poderoso analgésico. Quanto mais prolongado seu uso, maior será o esforço da sociedade para encontrar o "novo normal" quando o bom-senso novamente imperar. 

(*) Engenheiro eletricista, diretor do Colégio 7 de Setembro e da Uni7

Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/11/20. Opinião, p.20.

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