Por Henrique Soárez (*)
Não
é prudente usar a expressão "novo normal" enquanto os orçamentos não
estiverem equilibrados. Todo e qualquer orçamento: do país, da empresa, da
família. Estamos vivendo dentro dos nossos próprios meios? O mundo de agora é
sustentável? Estamos investindo para colher à frente ou consumindo o que
acumulamos no passado? Ou, pior ainda, pedindo emprestado ao futuro?
O
esforço para eliminar o lixo plástico deu lugar a restaurantes que embalam
talheres, guardanapos, copos e pratos. A busca pela eficiência energética deu
lugar ao ar-condicionado ligado em salas com janelas abertas. Podem ser
adaptações necessárias, mas somente sob a ótica da sustentabilidade saberemos o
que veio para ficar. Enquanto os orçamentos estiverem desequilibrados não se
pode inferir estabilidade.
Chegamos
então ao papel do governo. As intervenções estatais foram oportunas no auge da
pandemia. Mas o bom governante precisa removê-las tão logo seja possível. No
dia-a-dia das escolas há alunos achando bom fazer como trabalho de equipe as
provas que deveriam ser individuais e sem consulta. Há empresários tomando por
permanentes as vantagens das suspensões de contrato, sem perceber que nenhum
país subsiste quando o governo paga os salários da iniciativa privada.
A
dívida pública nacional irá saltar de 76 para 92% do PIB em um ano. O
desemprego superou 14% em outubro. Em Fortaleza a cesta básica de outubro era
18% mais cara que em janeiro. E mesmo assim, os relatórios de mobilidade do
Google indicam que os fortalezenses estão visitando supermercados e farmácias
com frequência 8% maior que no início do ano.
O
arcabouço legal que busca evitar que políticos gastem mal o dinheiro do povo
foi suspenso quando o Congresso reconheceu o estado de calamidade pública. O
novo coronavírus já se tornou uma infecção endêmica, e entretanto os órgãos
fiscalizadores ainda não exigem o retorno à responsabilidade orçamentária. As
intervenções estatais funcionam como um poderoso analgésico. Quanto mais
prolongado seu uso, maior será o esforço da sociedade para encontrar o
"novo normal" quando o bom-senso novamente imperar.
(*) Engenheiro
eletricista, diretor do Colégio 7 de Setembro e da Uni7
Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/11/20. Opinião, p.20.
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