Depois muito tempo de
progresso na Europa, a disputa imperialista por mercados terminou produzindo o
primeiro grande confronto bélico do século XX, a I Guerra Mundial, que
perduraria de 1914 a 1918.
O único país
sul-americano a participar do conflito foi o Brasil, que, por meio do
presidente Venceslau Brás, declarou guerra à Alemanha, em 26 de outubro de
1917.
A participação
brasileira na I Grande Guerra foi mínima e, atualmente, é quase desdenhada.
Embora o Brasil não tenha participado diretamente da guerra, o País enviou
navios ao continente europeu que receberam ordens da marinha inglesa.
Com efeito, do ponto
de vista militar, seria difícil para o Brasil ter participado de forma
expressiva nessa conflagração, pois, com um Exército de somente 54 mil homens e
uma Marinha, que perdera a imponência da época do II Império, fragilizando-se
como força, nos anos da República Velha (1898-1930), ao Brasil somente restaria
oferecer ajuda simbólica.
Desse modo, além do
envio de 20 oficiais e de um contingente de cem médicos para a Europa, com o
fito de prestar assistência médica a feridos de guerra em hospitais franceses,
o Brasil despachou missões navais para agir, sob ordens britânicas, no
Atlântico, cabendo-lhe patrulhar a costa ocidental africana, o que incluía
"limpar" trechos minados.
Em uma dessas ações,
houve grande número de mortos – mais de 150 homens. Só que o “inimigo”, na
verdade, foi um surto da gripe espanhola que atingiu a tripulação brasileira.
O episódio conhecido
por “A Batalha das Toninhas” foi um evento ocorrido com a Marinha de Guerra do
Brasil. ao largo de Gibraltar, ao final da I Guerra Mundial.
Os navios da Divisão
Naval em Operações de Guerra receberam ordens do Almirantado inglês para
seguirem para Gibraltar. A ordem foi acompanhada do alerta de que um
encouraçado britânico tinha sido afundado por um submarino alemão na mesma
região. Assim, o almirante brasileiro Pedro Max Fernando Frontin ficou em
alerta com a possibilidade de haver mais submarinos na área.
Ao chegar no Estreito
de Gibraltar, o Cruzador Bahia, comandado pelo almirante Pedro Frontin, notou
uma estranha movimentação no mar e avistou algo que, segundo ele, seria o
periscópio de um submarino alemão. Diante de tal situação, o almirante ordenou
um poderoso ataque.
Contudo, o que
acreditava ser um submarino alemão era, na verdade, um bando de toninhas. A
toninha é um cetáceo de águas frias do Hemisfério, que muito se parece com os
golfinhos, sendo, porém, de menor tamanho.
Nesse contexto, o
comandante do Cruzador Bahia confundira um bando de toninhas com o rastro do
periscópio de um submarino alemão, resultando no ataque inusitado ao cardume.
O ataque, entretanto,
foi pesado e rigoroso. Somente ao término dos disparos, e já com muito sangue
tingindo de vermelho a água, foi que os marinheiros brasileiros averiguaram que
o que atacaram não eram alemães e tampouco oferecia algum perigo. A carnificina
foi geral, resultando no massacre do cardume e, finalmente, o ataque alemão
nunca aconteceu.
No entanto, o ímpeto da
bravura demonstrada só veio a nutrir a imaginação popular; entre muitas piadas,
foram criados relatos de um comandante alemão que, vendo o que teria
acontecido, teria dito algo assim:
“Se eles fizeram isso com um grupo de golfinhos,
imagina o que farão conosco!” – aí nós vamos de
tartaruga.”
O evento em Gibraltar
aconteceu no início de novembro de 1918. Alguns dias depois, a guerra chegou ao
fim. Entre os gozadores de plantão, houve quem aventasse que o próprio Kaiser
Guilherme II, teria antecipado a rendição, para não ter que enfrentar a fúria
da armada brasileira.
O fato é que o incidente
com a marinha brasileira foi retirado dos livros e raramente é mencionado por
ter se tornado um episódio cômico.
Entrementes, a reação
dos marinheiros não pode ser de todo criticada, tendo em conta o cenário de
alerta, pela possível presença dos temidos submarinos “U-Boats”, que lhes foi
apresentado antes de chegarem ao Estreito de Gibraltar, e por casos de
naufrágio de navios brasileiros que foram efetivamente torpedeados por
submarinos alemães.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Ex-Presidente da Sobrames-Ceará
* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Ombro, arma! Médicos
contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2018. 112p. p.64-66.
Nota: Esse causo foi escrito com base em
diferentes relatos disponíveis na internet.
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