Por José Carvalho Rocha
Reitor da Unichristus
Os cursos de Medicina no Brasil formam médicos
generalistas que devem possuir conhecimento teórico e prático nas cinco áreas
básicas: Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, Clínica Médica, Clínica
Cirúrgica e Medicina de Família e Comunidade.
Em situação pandêmica, com inúmeras mortes, existe
necessidade de médicos, muitos médicos, que precisam ser muito bem formados. A
má-formação profissional em saúde leva a diagnósticos errados e a tratamentos
desastrosos.
O Código de Ética Médica autoriza que médicos
exerçam a profissão com autonomia. Assim, existem hoje, em nosso País,
alternativas entre os tratamentos para a Covid-19. Das várias medicações
disponíveis, cabe ao profissional decidir a que deve ser indicada para seus
pacientes. A responsabilidade final é do médico. Diante de várias opiniões
divergentes, o bem formado saberá escolher o correto tratamento.
Ao ser graduado, o profissional tem total autonomia
para estabelecer qualquer diagnóstico e tratamento em todas as especialidades,
mesmo que ele ainda não tenha o título de especialista. Por exemplo,
recém-formados podem legalmente realizar neurocirurgia, caso exista hospital
que os aceite.
Os médicos formados na pandemia, de forma apressada ou
não, continuarão a exercer a profissão durante, pelo menos, mais 30 anos.
Existem as residências médicas, que são cursos de
pós-graduação lato sensu; no entanto,
na residência de Psiquiatria, por exemplo, médicos não apreenderão nem
praticarão conceitos de Pediatria e de Cardiologia. Caso não tenham apreendido
essas áreas na graduação, não apreenderão na residência.
Formação cronologicamente antecipada leva,
necessariamente, a uma formação incompleta.
Há 50 anos, o curso médico é desenvolvido em seis
anos, não menos do que seis anos. Nos últimos 50 anos, a educação médica muito
evoluiu. Hoje os estudantes precisam apreender maior quantidade de conteúdos,
precisam desenvolver novas habilidades e competências quando comparados a
estudantes da década de 1960. Todas as habilidades e competências do curso
médico necessitam de práticas e de tempo para a sua devida assimilação. Assim,
no meio médico, já foi discutida a necessidade de que o curso tenha a duração
mínima de sete ou oito anos; porém, por vários motivos, não foi possível sua
concretização.
Apesar do exposto, a Lei nº 14.040, de 18 de agosto
de 2020, permite que os cursos de Medicina antecipem a entrega do diploma para
alunos que tenham concluído 75% do internato. A mesma lei acrescenta que a
instituição de ensino define se antecipa ou não. A decisão das instituições
precisa estar fundamentada na qualidade do médico necessário à nossa sociedade.
A antecipação da colação implica que o curso de Medicina pode ser concluído em
cinco anos e seis meses, diminuição que compromete a qualidade dessa necessária
extensa formação.
A fim de formar médicos em menor prazo, faz-se
necessário retirar conteúdos e práticas. Qual área médica deve ser sacrificada?
Pediatria? Cirurgia? Clínica? Outra? Entendo que essa escolha não pertence
apenas aos médicos ou aos educadores médicos. Representantes do nosso povo
precisam participar.
Durante as últimas décadas, estudantes de medicina
tentaram, de várias maneiras, antecipar sua graduação. É um ímpeto estudantil o
desejo de, antecipadamente, exercer a profissão. “Ser doutor”. No entanto,
compete aos cursos médicos zelar pela qualidade da formação de seus egressos.
Não é possível aceitar que qualquer estudante venha a se tornar um mau médico.
As consequências são terríveis e já conhecidas por nossa população.
Os cursos médicos recebem alunos egressos do ensino
médio com diferentes condições acadêmicas. Os professores conhecem essa
situação. O curso é desenvolvido considerando o nível dos ingressantes, pois
alguns estudantes apresentam deficiências e outros não. Existem cursos que
recebem quase todos os alunos com deficiências.
As consequências que existirão no desenvolvimento da
matriz curricular são inevitáveis, pois, ao final dos seis anos, o curso
precisa entregar para a sociedade médicos que exerçam a profissão com grande
qualidade, independentemente de como os alunos chegaram ao curso superior.
Cursos que recebem alunos que não tiveram bom desempenho no ensino médio
necessitam ter maior dedicação aos seus alunos e mais tempo aplicado ao ensino.
Durante o ano letivo de 2020, vários serviços de
saúde que recebem estudantes para o estágio obrigatório (internato)
dificultaram essas vivências, pois foi necessária a diminuição de pessoas
circulando nesses estabelecimentos, devido ao risco de transmissão do novo
coronavírus. Dessa maneira, os cursos médicos, com o intuito de manter a
qualidade dos formandos, necessitaram modificar o desenvolvimento da matriz
curricular, pois as vivências prejudicadas precisavam acontecer. Todos os dias
disponíveis para o internato precisam ser utilizados.
O Brasil precisa de excelentes médicos. Precisamos
de excelentes cursos médicos. Seguindo todas as leis e portarias, as
instituições de ensino precisam ter liberdade para trabalhar. Entregaremos,
assim, para a sociedade, egressos com as competências fundamentais nas áreas
básicas da saúde, atendendo, dessa maneira, às principais necessidades dos
pacientes.
Fonte: Publicado no Blog da ABMES (Associação Brasileira de
Mantenedoras de Ensino Superior) em 2/4/2021 e no jornal O Povo de 5/4/2021.
p.3.
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