Por José Xavier Neto (*)
A falta de um comando central engajado
limita o impacto das medidas estaduais e municipais. Contudo, há falhas no modo
como o Brasil planejou enfrentar crises de saúde.
Há sete mecanismos de combate a pandemias que os
signatários do Registro Sanitário Internacional (RSI) da OMS comprometeram-se a
utilizar: (1) controle de fronteiras; (2) rastreamento de casos e contatos para
isolamento dos afetados; (3)métodos não farmacológicos; (4) distanciamento
social; (5) suporte econômico; (6) adequação da estrutura hospitalar; e (7) vacinação.
Apesar de signatário do RSI, o Brasil descuidou
do rastreamento de casos e contatos, utilizado consistentemente por Austrália,
China, Coréia do Sul, Libéria, Nova Zelândia, e Taiwan, países bem-sucedidos
contra a COVID-19.
Mapear casos positivos e identificar seus contatos
colocando-os em quarentena interrompe cadeias de transmissão,
evitando espalhamentos.
Por que deixamos de rastrear casos? A resposta,
paradoxalmente, está no SUS, sistema único de saúde. Criado em 1988,
o SUS é um passo fundamental para cidadania, mas sua estrutura tem
imperfeições.
Apesar de formular uma vigilância com elementos
sanitários, epidemiológicos, do trabalho e do meio ambiente, o SUS não previu
a vigilância epidemiológica ativa, justamente a que traça casos e
contatos.
Toda uma geração foi treinada no
equívoco de que, na prática, a vigilância epidemiológica se restringe à
colheita de dados.
Descentralizado e regionalizado, o SUS uniu
solidariamente os três níveis de organização governamental, agregando conselhos
para assegurar participação social.
Em certas áreas, essa receita virtuosa mostrou-se
pouco prática, por pulverizar responsabilidades, forçando a criação de agências
para garantir uma operação eficiente de serviços vitais. A Anvisa é o
exemplo na área da vigilância sanitária.
Apoiemos agora o rastreamento de casos, seja ele
tradicional, como o Covid Tracker da Prefeitura de Fortaleza, ou inovador,
de alta tecnologia. O primeiro já opera com capacidade reduzida, o segundo já
foi delineado.
Após a crise, revisemos políticas, criando um centro
de controle de doenças do porte do CDC norte americano e retreinemos
nossos epidemiologistas e agentes de saúde na vital arte perdida do
rastreamento de casos para o enfrentamento de epidemias.
(*) Médico,
professor e pesquisador.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/3/2021. Opinião. p.29.
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