Em
1942, o Brasil concedeu, temporariamente, seu território para que os Estados
Unidos da América instalassem suas bases militares em Fernando de Noronha e ao
longo da costa nordestina, de enorme valor estratégico por sua situação
geográfica próxima da Europa Ocidental e também do Norte da África.
Praticamente,
essas bases formavam verdadeiras pontes aéreas para o transporte de tropas e
suprimentos das forças armadas americanas aos teatros de operação europeu e
africano. Natal constituía o principal centro de operação norte-americana no
Nordeste, mas Fortaleza, por ser uma cidade de maior porte, também era
considerada bastante importante, tendo acomodado, de forma regular ou em
trânsito, muitos militares enviados pelos EUA.
As
cabeças douradas de norte-americanos, mercê dos fios loiros dos seus cabelos,
fizeram as cabeças das nossas moças donzelas, encantadas com a beleza
anglo-saxônica dos garbosos efebos e, inclusive, “desencaminharam” algumas
dessas garotas de Fortaleza, tomadas por arrebatadora paixão, sonhando serem
levadas aos “States”, a tiracolo ou na
bagagem, dos pseudo-intrépidos soldados, já que eles estavam a milhares de
quilômetros de distância de qualquer “front” e os poucos estampidos, aqui
audíveis, eram advindos dos treinamentos e dos exercícios militares.
Para garantir o
lazer do oficialato e até um maior entrosamento dos adventícios com os nativos
da provinciana capital cearense, foi montado o Cassino Estoril. Por ser um
clube destinado aos oficiais norte-americanos, sedentos da companhia feminina,
a ele, naturalmente, acorriam graciosas moças da nossa sociedade, pelos mais
diversos motivos, dentre os quais, o de desfrutar a convivência de pessoas de
tez alva e traços delicados, bem diferentes da moçada cabeça-chata daqui. Além
disso, esses rapazes dourados ocupavam uma posição de destaque, o que dava um
charme maior à aventura, que poderia, quem sabe, servir para fisgar um marido
estrangeiro e, com isso, ir morar na terra do Tio Sam.
Os rapazes locais,
conhecidos por sua verve moleque, sentindo-se preteridos por tais raparigas, no
sentido lusitano do termo, como correspondente de gênero em oposição a rapazes,
apelidaram as ditas cujas de garotas Coca-Cola, em alusão ao arraigado hábito
“yankee” de consumir a Coca-Cola, um refrigerante abominado pelos cearenses, à
época, cujo sabor era intolerável ao gosto da nossa gente.
Com o fim da guerra,
quando a Alemanha, em frangalhos, assinara o armistício incondicional, imposto
pelos aliados vitoriosos da II Guerra Mundial, a cidade alencarina retomara à
sua normalidade, acabando-se o blecaute e retornando os soldados
norte-americanos ao seu país de origem, deixando, no ora veja, muitas jovens
cearenses.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Ex-Presidente da Sobrames-Ceará
* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Fora de forma! Médicos contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2020. 128p. p.62-63.
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