Por Cláudia Leitão
(*)
“Os
países ricos conhecem a poluição direta, física, material, a do ambiente
natural. Os países subdesenvolvidos são presas da fome, da miséria, das doenças
de massa, do analfabetismo. O homem do Terceiro Mundo conhece essa forma de
poluição chamada 'subdesenvolvimento'".
A
reflexão, lamentavelmente tão atual, é de Josué de Castro, um
pernambucano cidadão do mundo, indicado três vezes ao Prêmio Nobel, deputado,
professor, embaixador e presidente da FAO (Organização das Nações Unidas para a
Agricultura e a Alimentação).
Castro
era um humanista. Sua visão ética e abstrata de justiça não se
descolava das suas atitudes. Atravessou a vida enfrentando poderosos para
transformar a realidade das populações famintas do planeta.
A
publicação, em 1946, do magistral "Geografia da Fome" inaugura
uma extensa produção intelectual que denuncia a conspiração silenciosa em torno
da insegurança alimentar no Brasil e no mundo, só explicável, segundo ele, por
interesses e preconceitos de ordem moral, política e econômica.
Afinal,
as tecnologias, presentes desde a primeira metade do século XX, já seriam
capazes de produzir alimentos para todo o planeta.
Para
Castro, o subdesenvolvimento não passava de uma dimensão do próprio modelo
de desenvolvimento capitalista.
Não
será por acaso que terá seus direitos políticos caçados pelo golpe
militar de 1964 (golpe sim!) e morrerá no exílio, em Paris, sempre
afetado pelos problemas sociais brasileiros.
Segundo
a Pesquisa de Orçamentos Familiares, 2017-2018, divulgada pelo IBGE, a insegurança
alimentar grave esteve presente entre 10,3 milhões de brasileiros,
trazendo o Brasil de volta ao mapa mundial da fome. Com o advento da covid-19,
em 2021 são mais 116 milhões de pessoas que sofrem algum tipo de privação
alimentar.
Se
Josué de Castro fosse vivo, continuaria contribuindo sobre a fome, a
biodiversidade, a poluição, o desenvolvimento sustentável, a concentração
de renda, entre outros temas urgentes sobre os quais o Brasil vem
silenciando. Que falta faz Josué de Castro e seu compromisso com a dignidade
humana!
(*) Professora da Uece. Diretora do
Observatório de Governança Municipal do Iplanfor.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 19/4/21. Opinião, p.22.
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