Por Henrique Soárez (*)
Nossas
necessidades emocionais muitas vezes são inconscientes. Quando eu tinha pouco
mais de 30 anos me surpreendi, após 3 dias de viagem e sem ter com quem
conversar, puxando papo com o caixa do supermercado. Com o passar dos anos
aprendi que recarrego minhas baterias, mesmo calado, assistindo amigos baterem
papo.
Felipe,
filho único, 16, lamenta para sua mãe que os dias sem sair de casa estão
pesando: "Casa, parede, tablet, televisão... preciso de uma escola,
preciso conversar com pessoas". As amigas da minha filha Aline, que cursa
o 3ºEM, agora acordam umas às outras antes da aula pela manhã. As necessidades
socioemocionais se manifestam de formas inesperadas.
Hoje
ensinamos as crianças a tomarem consciência das suas emoções e as ajudamos a
verbalizarem o que sentem. Mas esse cuidado com a alfabetização emocional é
recente. Nem todas as famílias conseguem lidar organicamente com os estresses
do dia a dia. A escola oferece também um ambiente de despressurização.
Na
população menos favorecida a escola serve também como rede de segurança: na
escola a eventual violência doméstica é primeiro identificada. A escola também
serve como anteparo contra o ingresso precoce no mundo do trabalho.
O ensino
digital não se presta a qualquer dessas funções. E muitos alunos do
ensino médio público carecem de equipamento, conexão e ambiente de estudo em
seus lares.
A
ausência das aulas presenciais cria lacunas muitas vezes imperceptíveis.
Algumas podem levar a desfechos trágicos. A maioria delas exigirá anos de
cuidados reparatórios.
A
aprendizagem se recupera, afirmam os que se opõem às escolas abertas. Os países
que levam a educação a sério (como demonstrado pelos resultados do Pisa)
tomaram rumo diferente.
Ao
perceberem que o vírus traz efeitos leves para a população
escolar, e ao constatarem que os protocolos tornam a escola segura para os
profissionais que a frequentam, retomaram as aulas presenciais com agilidade.
Segundo
a ONG Save the Children os alunos mundo afora perderam 74 dias
de escola na média. A maior parte dos alunos brasileiros perdeu 230 dias. E
contando.
(*)
Engenheiro eletricista, diretor do Colégio
7 de Setembro e da Uni7
Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/4/21. Opinião, p.20.
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