sexta-feira, 18 de junho de 2021

Crônica: “U’a mão na roda” ... e outros causos

U’a mão na roda

Marivaldo, motorista do proctologista Dr. Rembrandt, foi procurado pelo amigo Nemésio no domingo à noite, passava das 21 horas. Era coisa de urgência, pelo visto. Tava na cara! Campainha acionada.

- Fala, Nemésio! Quem morreu?

- Ninguém, macho; desculpaí o horário. É que eu preciso duma consulta pra amanhã cedo, não aguento mais!

- Que é isso nos ói?

- Remela catingosa nos dois, dor lascada, areia grossa no globo, lágrima saindo pelos cantos sem eu fazer força, vermelhidão nas bolota...

- Que posso fazer pelo amigo?

- Falar com teu patrão, Dr. Rã Branca (como pronunciam Rembrandt), médico dos bom, pra me consultar ligêro!

- Nemésio, meu fí, Dr. Rã Branca é proctologista!

- Diabé dez?

- Especialista em tratar dos intestinos, do reto e do ânus.

- Ótimo!

- Ótimo nada, Nemésio! Teu problema é nos olhos!

- Marivaldo, um homem que entende de caneco entende de tudo!

Deus me livre dessa desgraça!

Ele tem cara de mau, vive armado, afobado, enfezado. É solitário e temido. Veste preto e é parrudo. Acho que nunca foi à missa, não deve saber rezar um "creio em Deus Pai". Chega dá uma coisa ruim vê-lo em ação. Uma investida daquilo e até febre dá na pessoa. Não pode ser cristão aquilo, apesar de criatura de Deus, pois até os cururus o são.

Se por ventura eu avistar um sujeito desses, mesmo a 100 metros de mim, mudo de calçada - vexado! Pior: quando estressado, aí é que ele ataca e faz vítimas. Dizem que não é ele, é ela que faz a imbuança toda. Uma coisa é certa: não há roupa nenhuma no mundo que impeça o cidadão de levar uma chibatada dele quando está de veneta.

Não adianta, eu não gosto do besouro mangangá e pronto!!!

Cearensês contemporâneo

A porta da casa é a serventia da rua - Passe pra fora, se mande, avie! Chispa!

Anemia de cassaco - Doença rara, diz-se de uma enfermidade incomum.

Assista a missa!!! - Se apresse não (que depois tem a comunhão)!

Engrossar o cangote - Criar marra, amadurecer.

Espocamento intestinal - Peidarança aos papocos, com possibilidades catingativas e espocativas (explosivas - zuadentas).

Manelito - Monólito (monumento formado de uma só pedra), como é chamada (no plural) a cidade de Quixadá, no sertão-central do Ceará.

O defunto era maior!!! - Crítica à roupa curta demais ("jiqui") que o outro veste.

Pisar na lama do dilúvio - Ser velho demais. Um ditado da radialista e atriz Neide Maia.

Só quer ser a calunga do maracatu! - Só quer ser as prega, ser o que em verdade não é.

Só tem arranque! - Só tem conversa! Fala, fala e num faz nada!

Tá que nem um saraça... - Não para de comer.

Vende-se este RCO - Vende-se esterco. Era o que se lia em placa de uma casa na BR 222, cuja divisão silábica enganava quem a lesse sem maior atenção: "VENDE-SE ESTE RCO"

Fonte: O POVO, de 5/2/2021. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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