Por Leandro
Vasques (*)
Convido
inicialmente o caro leitor a ler esse artigo com o espírito desarmado. Há pouco
mais de um ano essa peste apocalíptica chamada coronavírus transformou
radicalmente nossas vidas, exterminando mais de 2,8 milhões de vida no mundo,
e, na data em que escrevo este texto, mais de 320 mil brasileiros.
Reflexo
disso, lamentavelmente, são as nossas redes sociais, que mais parecem um
obituário diário.
E
nesse cenário devastador de pandemia, com suas implacáveis tsunamis de mortes,
temos amargado, para além da mortandade de conhecidos, amigos e familiares, um
processo frio e gélido de desumanização que muito me preocupa.
Os
grupos de WhatsApp, com tantas esgrimas e discussões acaloradas, mais parecem
um campo de batalha. Cada um entrincheirado e arremessando seu
bombardeio inútil, pois sabemos que um lado não convencerá o outro.
Dentre
pitacos sobre infectologia e epidemiologia e impropérios de ordem política, os
temas se misturam e acabam vindo à tona as piores facetas humanas: o desprezo,
o desdém, o ultraje, o escárnio e o menoscabo em relação à vida.
As
pessoas esquecem que o vírus não tem ideologia, e todos, não importa o lado
político, têm adoecido, não só por Covid-19, mas também mentalmente.
Mas
sejamos francos: as três esferas de governo cometeram erros. Isso é
indisfarçável, afinal o tema era inédito a todos.
Quem
é isento, imparcial e independente enxergou com clareza solar a onda de erros
praticados por todos os entes. Alguns equívocos aceitáveis e compreensíveis,
outros nem tanto, afinal, friso: o tema é novo para todos.
O
governo federal indiscutivelmente pecou ao subestimar a letalidade do
vírus, na sucessiva troca de ministros e na demora na aquisição de vacinas.
A
gestão estadual também cometeu suas derrapagens: a demora em enxergar como
aliviar a carga tributária dos menos favorecidos e decisões de lockdown de
supetão, sem permitir uma preparação mínima dos negócios.
Já
a gestão municipal de Fortaleza, por exemplo, não explicou até agora o porquê
da precipitada demolição do hospital de campanha.
Concluo
meu desabafo com um apelo, já vislumbrando, no horizonte político, o pleito
de sucessão presidencial do ano que vem: tenhamos mais
sensibilidade, compreensão, tolerância e respeito com as questões políticas,
principalmente quando se relacionam à perda de tantas vidas próximas e
queridas.
(*) Advogado,
mestre em Direito pela UFPE e diretor da Academia Cearense de Direito.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/4/21. Opinião, p.20.
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