Por Cláudia Leitão
(*)
“És
um senhor tão bonito... compositor de destinos... E quando eu tiver saído para
fora do teu círculo, tempo, tempo, tempo, tempo, não serei nem terás
sido..." Na sua Oração ao Tempo, Caetano Veloso profetiza
a essência dos tempos em que vivemos.
Eles
simbolizam a fadiga de uma razão linear e evolucionista da vida social.
Enquanto tempo trágico, inverso ao tempo comum, a pandemia
demonstra que é uma ilusão acreditar que caminhamos em direção ao futuro.
Pelo
contrário, voltamos sempre ao ponto de partida. Impossível lutar contra o tempo
trágico. Somos espectadores impotentes diante do desfile de
imagens de um filme invertido. Quando chegamos ao começo, ou quando o começo
chega até nós, somos nós que acabamos.
A
dramaturgia do Édipo Rei, que revela a tragédia da condição humana. A história
começa com um sacerdote de Tebas que vem implorar pela ajuda do rei Édipo,
pois a cidade está assolada pela peste.
Édipo
foi condenado à morte quando ainda era recém-nascido. Laio, rei de Tebas e seu
pai, ouviu do oráculo de Delfos que o filho o mataria e desposaria sua
mãe, Jocasta.
Diante
da revelação, o rei decide mandar matar o filho. Um pastor é convocado para a
tarefa, mas apieda-se e o leva para casa, oferecendo-o posteriormente a
Políbio, rei de Corinto, para adoção.
O
desenrolar da peça conduz Édipo a realizar a profecia do
oráculo. Ao levantar das cortinas, o drama já está consumado.
Todos
os personagens parecem livres para agir, mas, na verdade, somente vivem ilusões de
futuro. No início, sabe-se o fim, e no final, compreende-se o início.
A
essência da tragédia de Sófocles está no entrecruzamento e
tensionamento do tempo real com o tempo trágico. A alegoria de uma cidade
adoecida é o pano de fundo da tragédia.
A
peste é o início e o fim de uma narrativa, processo e produto dos desvarios humanos.
"Salva Tebas hoje para todo o sempre! Se tens de ser o governante dessa
terra, que é tua, é preferível ser senhor de homens que de um deserto,"
diz o sacerdote ao rei Édipo.
Impossível
não pensarmos sobre a atualidade do texto de Sófocles...
(*) Professora da Uece. Diretora do
Observatório de Governança Municipal do Iplanfor.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 14/6/21. Opinião, p.22.
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