Por Tales de Sá
Cavalcante (*)
Fim
de tarde. O sol a se pôr. Ela trocava o brilho do dia pela cor dos cabelos de
Iracema, mais negros que a asa da graúna, como dizia José de Alencar.
A
Lagoa de Messejana me induziu a Fernando Pessoa, que, sob o
heterônimo Alberto Caeiro, poetizou: "O Tejo é mais belo que o rio que
corre pela minha aldeia, / Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela
minha aldeia / Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia…"
Sob
vênia, parafraseá-lo-ia: lagoa nenhuma é mais bela que a lagoa da minha aldeia.
O
visual me lembrou a mudança para Messejana em euforia, talvez
por genética, uma vez que a mãe deste articulista se mudava tanto, a ponto de
seu irmão Luís Alberto, em chiste, afirmar que ela deveria morar num trailer,
ou porque iria residir no sítio aonde íamos na infância.
E
sobre o significado de Messejana, não seguiria nem Alencar, com a expressão
"lugar abandonado", nem Edmar Freitas, que interpreta
como "cárcere ou prisão". Optei pelo sentido da última palavra dita
por minha mãe, Hildete: "Messejana".
Rumo
ao novo lar, por via antiga, cheguei ao primeiro ícone, aonde sempre vou em
busca da alegria e Iracema ia quando triste: a lagoa da minha
aldeia.
Despedi-me
da musa de Alencar em estátua e fui à padaria Nogueira, onde, infelizmente sem
o Doquinha, degustei um pão doce. Tomei uma cerveja no bar do Jaime
e distribuí adesivos com a frase "Eu amo Messejana". Contornei a
curva d'água até o sítio.
À
tarde, os dois amigos Sérgio Almeida e Francisco Lima, a trabalho, compunham a
linda imagem aquífera. Um vestia a camisa do Fortaleza; o outro, a do Ceará. E
refleti: por que essa harmonia não existe no Castelão ou em
qualquer estádio?
Por
que não há essa união entre adeptos de adversários como Bolsonaro e
Lula, por exemplo?
A
radicalização arranha amizades de admiradores, que, no futuro, poderão ver seus
ídolos em aliança. Sérgio e Francisco nos remetiam a Herman Hesse,
ao apontar: "A nossa missão não é identificarmo-nos um com o outro, mas
sim conhecermo-nos e aprender a ver e respeitar um no outro aquilo que ele de
fato é: o seu oposto e complemento."
(*) Reitor do FB
UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Membro da Academia
Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/6/21. Opinião, p.18.
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