Por Sofia
Lerche Vieira (*)
Talvez
seja impossível identificar exatamente quando extremismos passaram
a pautar comportamentos e ações de nossa convivência diária.
Se
é verdade que tais ideias costumam estar associadas ao fascismo,
hoje possuem características próprias, de algum modo associadas à inserção das
redes sociais no cotidiano dos tempos atuais.
Acompanhando
a trajetória de grandes plataformas de expressão, como o Facebook e
o Instagram, observa-se que representam não apenas estratégias poderosas de
comunicação, como mecanismos de acirramento de conflitos.
Na
tribuna de uma rede social todos aparentemente têm o mesmo poder de voz, embora
os perfis falsos e robôs estejam aí para afirmar o contrário.
Se
todos se julgam legítimos detentores da verdade, ainda que esta seja sujeita a
controvérsias, a pretensão de impor opiniões é quase irresistível, sobretudo
numa sociedade onde a convivência democrática é ainda tão
frágil.
Nos
pequenos e grandes grupos, pautados por interesses comuns, sejam eles
familiares, profissionais, políticos e de outra natureza, uma significativa
parcela de participantes se faz porta-voz de pensamentos radicais.
Em
tais casos, ou os demais concordam com as opiniões predominantes ou, se veem na
contingência de retirar-se ou, pior ainda, serem "cancelados". Certo
é que a tolerância vai perdendo espaço e cedendo lugar a uma
cultura de ódio.
A
cultura do ódio a esse outro que pensa diferente, corrompe
relações e põe em xeque elementos preciosos da convivência social. A empatia,
qualidade essencial de nossa humanidade, vai se tornando escassa e rarefeita.
Em
tempos como os que vivemos, quando o luto pela perda de tantas vidas ceifadas
pela Covid-19, deveria inspirar solidariedade e compaixão, ficamos
à mercê da intolerância, permitindo que seu império se alastre.
Em
meio a esse cenário desalentador, importa não perder a fé de
que o melhor antídoto contra o extremismo é exatamente a possibilidade de
restabelecimento do diálogo e da capacidade de escuta entre as pessoas.
Afinal,
como diz a canção popular: "amanhã, apesar de hoje, será a
estrada que surge pra se trilhar".
(*)
Professora do Programa de Pós-Graduação
em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 21/06/21. Opinião, p.20.
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