Por Keny Colares (*)
Há alguns dias recebemos a notícia de que o governo
argentino havia desistido de sediar a Copa América. Nossos tradicionais
rivais no mundo da bola não estão obtendo bons resultados no campeonato da
pandemia de Covid.
O país contabiliza 81.946 óbitos, estando na 12ª
colocação mundial. Registra 721 óbitos/dia, com taxa
de mortalidade acumulada de 181 óbitos /100 mil habitantes.
Como a taxa global é estimada em 48 /100 mil,
podemos concluir que os argentinos morreram 3,8x mais que o terráqueo
médio.
No quesito vacinação observamos que apenas 7% da
população está imunizada. Encarando este cenário desolador nossos vizinhos
resolveram jogar a toalha, saindo do jogo para salvar vidas.
O governo do Brasil que vinha jogando mal, chegando
sempre atrasado no lance, resolveu de repente acordar e aproveitar a
oportunidade.
Afinal, não é qualquer dia que podemos superar
nossos hermanos. O problema é que nossos resultados não são muito
diferentes.
O Brasil contabiliza 474.414 óbitos e está em 2o
lugar neste campeonato macabro. Perdemos 2.378 vidas em 24h e acumulamos
taxa de 223 óbitos /100 mil, 4,7x maior que a média global.
Se fizermos mais algumas contas perceberemos que se
estivéssemos no meio da tabela classificatória teríamos 101
mil óbitos acumulados e 370 mil vidas poupadas.
Em relação à vacina, apenas 11% da nossa
população está imunizada.
Como fomos parar nessa zona letal de
rebaixamento? Os países que estão na liderança não fazem segredo: medidas não
farmacológicas, testagem em massa e ampla vacinação.
Infelizmente nosso técnico decidiu inventar outra tática,
nos enviando para a derrota certa, munidos apenas de coragem e um doping
ilusório.
Diante deste cenário a decisão brasileira causa
perplexidade. Tanta dor não foi capaz de ensinar? A Copa vai aumentar o
fluxo de viajantes, favorecendo a circulação de novas variantes, no
momento que o mundo todo teme a terceira onda.
Teremos aglomerações, além de consumir recursos
e atenção que deveriam estar voltados para proteção da vida dos brasileiros.
É triste que os dois países, que costumam encantar o
mundo do futebol, estejam obtendo resultados tão sofríveis no campeonato da
pandemia. Mais triste ainda é constatar que no jogo da vida contra a morte,
Brasil e Argentina continuam jogando em lados opostos do campo.
(*) Médico infectologista e professor Unifor.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 10/6/2021. Opinião. p.19.
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