Bone Senha
Foi
aqui pertinho, na região Metropolitana. Deu-se na derradeira visita de seu Zé
Duarte a um compadre que fazia décadas não encontrava. Chegando à casa, já
pede um caneco d’água pra combate ao calorão da ora. Quem trouxe logo um litro?
O filho mais velho do tal cumpade, de cinquenta e poucos anos, que atendia por
estranho nome.
-
Obrigado pela água, jovem. Qual seu nome? – perguntou o velho José Duarte, com
cara de quem iria cair com uma gorjeta.
-
Bone Senha!
-
Bone Senha? Eu quero saber seu nome de batismo!
-
Neco Bone Senha! Nome do atacante italiano que fez aquele gol no Brasil na
final da Copa de 70. E empatou o jogo, que terminou em 4 a 1 pra nós...
-
Nós quem, Neco?
Seu
Zé, sempre muito curioso, entrão e inconformado com tudo que tá fora da
cangalha – e esse nome, a seu ver, estava fora dos cambitos –, não calou:
-
Escreva seu isso num papel! Seu nome completo!
Neco
Bone Senha escreve: “Manuel Bone Senha de Oliveira Crispim”.
Torcedor
do Ferrim até a alma, entendido de futebol cearense desde os tempos do Usina
Ceará Atlético Clube, Zé Duarte abre a enciclopédia e explica que aquele que
empatou o jogo na Copa do México, pra depois o Brasil virar, golear e arrastar
o caneco, fora batizado por Roberto Boninsegna.
-
Viu, Bone Senha, o nome é Boninsegna!!!
-
Isso, Bone Senha! Papai tava certo!
-
E é Roberto, e não Manuel, que deu origem ao seu Neco.
-
Isso. Pai errou só no Roberto, botando Manel no meu nome. Roberto é mais
bonito...
O roubo da
máscara
Dona
Terezinha tem jeito não. Estava indo pro mercantil com a secretária Vandinha, a
pé, quando peitou um assaltante ainda a dois quarteirões de casa (se o meliante
soubesse que iria enfrentar essa invocada criatura, teria seguido outro caminho
na vida). Revólver em punho, sem usar máscara anticovid, o ladrão faz a
abordagem crente que tava abafando.
-
Bora! Passa a grana, vovó!
-
Vovó é o miolo do teu sovaco! Tem medo duma mãozada no fucim não?
-
Agora pronto, valentona! Avia!
-
Ah, é? Cadê a máscara?
-
Trabalho com máscara não, titia!
-
Titia é tuas venta! Só converso com quem tá de N95!
-
Pois me 20 reais pra eu comprar uma ali na farmácia e eu volto já!
-
Ah, assim sim! Tome. Vá lá, que eu fico aqui esperando.
Até
hoje o larápio não voltou. Mas dona Terezinha tá lá esperando, braba toda.
Quem veio primeiro
De
tanto ver essa gente boa fazer lives com as abordagens mais incríveis, abusei.
Especialmente após ouvir o singelo vendedor de ovos caipira, numa bicicleta,
anunciar seu produto - no portão da casa de mãe – com sabido marketing:
-
Ó ovo, ó o ovo, ó o ovo!!! Antes que o pinto cresça, ó o ovo, ó o ovo, ó o
ovo!!!
Fonte: O POVO, de 11/6/2021. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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