Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
A vida é uma
travessia. Travessia para o novo e desconhecido. Somos peregrinos, num
caminho povoado de desafios que pode atrofiar a visão e nos colocar à margem do
caminho, sozinhos, desencantados e sem sonhos, ou em um caminho repleto de
sinais que nos impulsiona e preenche nosso coração de ousadia.
Esse tempo
de pandemia foi precioso! Obrigou-nos a parar e refletir sobre nossa
caminhada, serviu para nós como uma reflexão sobre como e de que forma
retomaremos o ritmo da marcha.
Precisamos
esvaziar as mochilas do supérfluo, reabastecer-nos do essencial, retomar
as metas discernidas e assumidas diante de Deus.
Como dizem os
mentores e coaches: tempo é questão de prioridade. O que dá sentido ao
tempo vivido é a atenção que damos ao nosso mundo interior.
A maior parte
das pessoas vive como se a vida interior não tivesse importância, como se não
precisasse de tempo e dedicação para crescer espiritualmente, esquecem que
a vida de dentro se revela na de fora.
A vida interior
precisa de tempo para morar no silêncio. Silêncio é lugar de
descobertas, entregas e encontros.
O tempo da
pandemia nos convida a cuidar da nossa vida interior, a fazer uma faxina e a
nos desfazer de toda bagagem tóxica que consumimos e alimentamos na
rotina agitada, corrida e estressante.
Neste tempo
deve ter espaço para a oração e meditação, que são ferramentas
poderosas para atrair a paz e o autoconhecimento.
A oração é
adentrar no mundo interior, porque é lá que se faz ouvir a voz de Deus.
Mas, dificilmente podemos entrar no interior se tivermos um coração endurecido,
hermético e agitado.
O olhar amoroso
e vigilante sobre si mesmo, a tomada de consciência sincera na
direção de uma transformação profunda nos leva para mais perto de Deus.
É o
Senhor da vida que nos nutre. A ausência de atitudes e comportamentos
tóxicos favorece o contato com o Divino.
Diante de uma
sociedade que valoriza o ser humano em função do que consome -
"consumo, logo existo", a oração nos capacita a compartilhar com os
outros a generosidade que Deus desperta.
Quanto mais
vivemos em Deus, menos somos nós o centro, menos dependentes das coisas e
mais receptivos e entregue aos outros.
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em
Teologia. Diretor do Seminário Apostólico de Baturité.
Fonte: O Povo, de 3/7/2021. Opinião. p.20.
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