Por Liduína Leite (*)
Quando pensamos em gravidez, surgem inicialmente -
construção cultural e historica - ideias de felicidade e plenitude. Pouco se
dialoga sobre como nós, mulheres, significamos as mudanças ou sobre as
gestações não planejadas (que são cerca de 60%!). Dada a radicalidade das
mudanças, essa deveria ser uma escolha consciente. Para isso são fundamentais
políticas públicas que garantam o respeito aos direitos reprodutivos, incluindo
espaço seguro e adequado à assistência ao pré-natal, parto e puerpério.
Gestar e parir em meio à pandemia, no Brasil das
mais de 500 mil mortes por Covid-19, nos traz ansiedade, dúvidas e medo - da perda
de um filho e da própria morte. Antes da pandemia pela Covid-19 no Brasil,
tínhamos poucos registros de mortes maternas (na gravidez e até 42 dias após o
parto).
Infelizmente a realidade brasileira, especialmente
por falta de políticas públicas corretas pelo Governo Federal, trouxe respostas
angustiantes.
Gestantes e puérperas com Covid-19 têm maior chance
de desfechos obstétricos ruins: mais partos prematuros, quadros hipertensivos,
hemorragias, eventos tromboembólicos. Mulheres infectadas pelo coronavírus têm
maior risco de quadros graves, internação e morte.
A Covid-19 se tornou a principal causa de morte
materna no Brasil, ultrapassando as causas diretamente relacionadas à gestação.
Em 2021, responde por cerca de 59% dos óbitos no Ceará.
Em abril deste ano, a Rede Feminista de Ginecologia
e Obstetrícia fez um chamado à ação por políticas públicas para grávidas e
puérperas no Brasil, incluindo acesso a métodos contraceptivos, distribuição de
máscaras PFF-2, afastamento das gestantes das atividades laborais presenciais,
Acesso ao pré-natal com qualidade, renda mínima justa para as gestantes sem
trabalho formal e ampla testagem das grávidas, com testes moleculares, na
admissão em maternidade, para as grávidas sintomáticas e seus contatos.
Garantia de internação em UTI com acompanhamento obstétrico de qualidade, 24h,
prioridade para vacinação de gestantes e puérperas, com ou sem riscos
obstétricos.
Que a gravidez seja uma escolha consciente, que o
pré-natal de qualidade seja uma realidade, que o parto respeitoso seja uma
cultura, que a gente não tenha que chorar tantas mortes evitáveis. Que o futuro
seja a vida.
(*) Médica ginecologista e obstetra.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 29/7/2021. Opinião. p.19.
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