Por Luiz
Gonzaga Fonseca Mota (*)
Jardim Europa e Jardim Ângela são dois bairros de São Paulo, a
principal cidade brasileira e uma das maiores do mundo. Apesar de relativamente
próximos do ponto de vista geográfico, há uma distância incalculável no que diz
respeito aos aspectos social e econômico, entre os mencionados bairros. Tempos
atrás, li na mesma edição de um jornal paulista, aliás paulistano, dois fatos
marcantes ocorridos nas áreas citadas. No Jardim Europa, local onde se
concentram pessoas muito ricas – elevada
renda “per capita”, carros importados, condomínios ou casas com piscinas,
mulheres belas, homens elegantes fumando charutos cubanos, proprietários de
bancos, fábricas e haras – aconteceu um
grande jantar, à luz de velas, em homenagem a uma figura conhecida nos meios
empresarial, político e, claro, na alta sociedade. Já no Jardim Ângela, bairro
também paulistano onde estão pessoas muito pobres – miséria, falta de oportunidades, fome, desemprego,
violência, casebres, crianças abandonadas –
aconteceu o velório de um menino que faleceu por ser subnutrido, ou seja,
morreu de fome. O caixão do anjinho de apenas dois anos era de lascas de
madeira, coberto de papel, feito por seu pai. O fato me chamou a atenção pelo
acentuado nível de desigualdade e por serem o homenageado dos ricos e a
criancinha do velório ambos oriundos do Nordeste. Não tenho a estatística, mas
não estaria longe da verdade ao dizer que a grande maioria dos nordestinos que
buscam São Paulo ou outros centros não consegue o sucesso esperado. Mostrei
este contraste para ressaltar que o Nordeste é o principal problema social do
Brasil. Os migrantes buscam melhores condições de vida, no entanto, deparam-se,
quando surgem oportunidades, com um mercado de trabalho cruel, caracterizado
pela exploração da mão de obra em atividades mal remuneradas, sazonais e sem
perspectivas. Recursos devem ser destinados e políticas públicas adotadas
visando o estímulo às atividades produtivas e à geração de emprego e renda.
Chega de prioridade retórica. Sim à inclusão social. P.S. “As superfluidades dos ricos são as necessidades dos
pobres. Quem possui o supérfluo, possui bens alheios” (Santo Agostinho).
(*) Economista. Professor aposentado da UFC.
Ex-governador do Ceará.
Fonte: Diário do Nordeste, Ideias. 24/9/2021.
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